20 de dezembro de 2011

CASO MÉRCIA: MIZAEL É PROCURADO EM GUARULHOS.

Até vizinhos e amigos do advogado Mizael Bispo de Souza estão sofrendo as consequências da caçada da polícia ao suspeito de matar a ex-namorada Mércia Nakashima, em Guarulhos, na Grande São Paulo. Eles reclamam que os policiais surgem do nada, no telhado ou em muros de casas, acusam moradores de acobertar o procurado, reviram imóveis e, muitas vezes, ainda chegam a intimidá-los com arma. Mizael está foragido desde dezembro de 2010. “Todos estão assustados com os excessos, principalmente porque não têm nada a ver com o caso”, diz a corretora Rita Souza, ex-administradora do prédio onde funcionava o escritório de Mizael.

Rita deixou o trabalho porque se sentia perseguida. “A polícia invadiu minha privacidade. Não podia mais conversar com os irmãos dele porque já entravam com tudo”, conta. Segundo ela, no último dia 3 os policiais apavoraram um casal de idosos, inquilinos do advogado, ao invadir a casa deles para procurar o suspeito. “O medo foi tanto que devolveram o imóvel”, lamenta.

O delegado Waldomiro Milanezi, diretor da Divisão de Capturas, nega excessos. “O mandado de prisão me autoriza a entrar em qualquer domicílio se tiver certeza da presença do suspeito e o morador autorizar. Estamos cumprindo a lei e não querendo humilhar ninguém”, argumenta. 

Segundo Milizanezi, a divisão recebe mais denúncias sobre o suposto paradeiro de Mizael que do médico Roger Abdelmassih, condenado por estuprar 56 pacientes. Em razão disso há uma equipe só para checar essas informações. “Mas qualquer policial também pode fazer esse trabalho”, lembra-se.

Os irmãos de Mizael já até perderam a conta dos transtornos causados pela polícia nesses 12 meses em que o advogado está foragido. “Outro dia me viram entrar na casa de um vizinho e apareceram com tudo lá”, lembra-se Rosiel Bispo de Souza, indignado. Segundo ele, até na escola da sobrinha e no trabalho da mãe dela os policiais estiveram. “Eles chegaram ao extremo de por rastreador no meu carro.”

Segundo o advogado de Mizael, Ivon Ribeiro, a vida em cativeiro de seu cliente é mil vezes pior que a prisão. “Ele não pode sair nem falar com ninguém. Até o pagamento da aposentadoria na PM foi suspenso porque não se recadastrou”, comenta. “E o Mizael é apenas suspeito”, diz. O crime ocorreu em maio do ano passado.

ESCONDIDO NA TOCA 

O delegado Milanezi afirma que é obrigação da polícia checar todas as informações, mesmo que pareçam folclóricas. “A última que recebemos indica que Mizael está escondido dentro de uma toca, numa área rural no interior da Bahia, onde moram seus parentes. O denunciante cita até as montanhas que há na cidade”, conta.
Não é a primeira vez que a polícia recebe denúncia sobre o paradeiro de Mizael na Bahia. No início do ano, os policiais estiveram em Ibotirama, onde mora o aposentado Turíbio Ferreira de Souza, de 68 anos, pai do advogado. “Chegaram às 4h30, armados, foram virando camas e deixaram minha filha e minha neta assustadas”, diz Turíbio.

Milanezi afirma que, hoje, há 110 mil mandados de prisão cadastrados na divisão. Em média, 150 pessoas por mês são achadas na capital.

Pai está doente e chora ao falar sobre a acusação contra o filho

O aposentado Turíbio Ferreira de Souza, pai de Mizael, fez nesta terça-feira um desabafo emocionado sofre as acusações que pesam contra o seu filho. Com problemas de saúde e sofrendo de depressão, Turíbio falou pela primeira vez sobre o caso e interrompeu várias vezes a conversa por causa do choro compulsivo.
“Minha vida está triste. O Mizael sempre foi um menino bom e, dos meus 10 filhos, é o que sempre me deu muita alegria”, comenta. Segundo ele, das mais de 300 pessoas da família Souza, Mizael é o único que conseguiu diploma universitário.

“Eu me lembro do dia em que ele, todo sujo de lama no meio da colheita de arroz, me pediu ajuda para poder estudar”, comenta. Turíbio conta que o filho foi criado sem mãe e, ainda pequeno, começou a  trabalhar duro para cuidar dos irmãos. “Uma pessoa assim não é capaz de fazer mal, quanto mais matar.”
“Ele é como pai da gente, nunca deixou faltar nada. Ele podia ter só um pãozinho para comer, mas se via um amigo com fome, fazia questão de repartir com ele”, conta o pedreiro Natanael Bispo de Souza. Segundo ele, mesmo se recuperando de um acidente com fio de alta voltagem, que o fez perder dois dedos da mão e parte do pé, Mizael o ajudou quando ficou desempregado.

Para a família, a acusação contra Mizael é injustiça. “Ele adorava a Mércia. Os dois estavam sempre felizes e, mesmo depois da separação continuaram a se encontrar”, comenta Rosiel Bispo de Souza, lembrando que nesta época do ano a saudade do irmão aumenta.

Argumentos dos advogados e do promotor

O QUE DIZ A ACUSAÇÃO

Rastreador

Aparelho mostra que o carro de Mizael ficou parado durante horas próximo ao Hospital Geral de Guarulhos no dia do crime. Flanelinha diz ter visto o carro de Mércia lá

Ligações

Mizael teria usado celular de outro para ligar 16 vezes para o vigia Evandro no dia do crime.  A última ligação ao suposto comparsa foi às 19h32, horário em que Mércia foi morta

Tiro

Mizael atingiu o queixo de Mércia porque errou o alvo e não teria força para apertar o gatilho do lado de fora do carro.  Ela estava no banco do motorista

Motivação

Mizael era extremamente ciumento e violento e não teria aceitado o fim do namoro. Segundo a  família de Mércia, ela vivia com manchas roxas

O QUE DIZ A DEFESA

Rastreador

O rastreador estava com defeito. No laudo a polícia omitiu a Avenida Monteiro Lobato, principal via para o bairro Cecap, onde Mizael teria se encontrado com uma prostituta

Ligações 

Análise mostra que ele esteve o tempo todo no Centro de Guarulhos ou em casa e os horários não batem. Telefone “secreto” foi comprado para ligar para a família na Bahia

Tiro

Mizael é exímio atirador. Não havia marcas de pólvora em suas mãos. Se estava baleada, como dirigiu? Se não, por que o pescador não ouviu o tiro?
Motivação

Não havia motivo para matar Mércia. Na semana que antecedeu o crime, eles se encontraram pelo três vezes  sem ninguém saber

Um comentário:

Anônimo disse...

a materia saiu da ??