11 de junho de 2011

POLÍCIA MILITAR DO CEARÁ CONTA COM APENAS TRÊS PSICÓLOGOS PARA MAIS DE 15 MIL POLICIAIS.

A Polícia Militar conta com equipe de duas psicólogas e uma assistente social para dar conta de todos os policiais da Capital e do Interior. O efetivo atual é de cerca de 15 mil PMs.


Só de pensar em voltar à atividade policial, o coração dispara. “Fico com angústia. Há dois anos, tive uma depressão grande, tentei até suicídio. Desde essa época, venho tirando licença médica”, conta. O PM se envolveu numa operação policial que lhe causou um trauma.
Não tem vontade de sair de casa e toma vários remédios controlados. “Estou esse tempo todo sem trabalhar e nunca recebi visita de assistente social nem de psicólogo. Queria que viessem. Conversar é bom, ajuda”.
Fica fácil entender por que o policial ainda não recebeu visita. A PM conta com equipe de duas psicólogas e uma assistente social para dar conta de todos os militares, na Capital e no Interior. O efetivo atual é de cerca de 15 mil policiais. “É uma equipe ínfima diante do quadro de PMs. Estamos com algo em torno de 800 homens de Licença para Tratamento de Saúde (LTS) por problemas psicológicos”, afirma o subtenente Pedro Queiroz, presidente da Associação dos Praças da PM e do Corpo dos Bombeiros do Ceará.


As psicólogas e a assistente social trabalham no Centro Biopsicossocial (CPS) da Polícia Militar, no bairro Farias Brito, em Fortaleza. A unidade foi inaugurada em novembro de 2009. Lá, são realizados atendimentos individuais e terapias em grupo. “Paralelo a isso, tem o trabalho de visita domiciliar. A gente faz uma pré-seleção porque não dá para visitar todo mundo. É priorizado o servidor militar que está há muito tempo afastado”, explica a assistente social e coordenadora do CPS, Girlane Nobre.

A coordenadora garante que todo policial que procura ajuda é recebido, sem fila de espera. “A demanda é voluntária. Mas o comandante quando detecta algum problema (em um policial) também pode fazer o pedido de acompanhamento psicológico, via ofício”, informa. “Mas ele só aceita o tratamento se quiser. Ninguém obriga ninguém a frequentar (o CPS). Uma coisa obrigada não surte efeito”, acrescenta.

TraumaPara o psiquiatra, antropólogo e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Adalberto Barreto, o ideal era que houvesse um acompanhamento contínuo e preventivo. “De uma maneira geral, a atividade policial lida com a crise. Se o PM está estressado e não tem um lugar onde possa falar de seus problemas, ele pode adoecer ou se anestesiar no álcool e nas drogas”.

O especialista lembra ainda a importância do acompanhamento psicológico quando o policial passa por um “estresse pós-traumático”. “Depois de um tiroteio, por exemplo, é preciso tratamento para eliminar esse estresse porque, senão, vai acumulando e o PM adoece”, diz.

Foi o que aconteceu com o policial que teve seu caso relatado no início da matéria. “Eu já estava estressado, querendo tirar férias, quando me envolvi numa operação que me deixou traumatizado”, comenta. Ele diz que gasta R$ 300 por mês somente com remédios. “Antes, eu saía com minha esposa e os amigos todo fim de semana. Agora, passo dia em casa, deprimido”.

O PM já recebeu ofício do Centro Biopsicossocial para ser atendido lá. “O problema é o horário, 9 horas da manhã. Por causa dos remédios, eu passo o dia dormindo”.

Fonte: O Povo/Camocim Polícia24hs 

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