O prêmio de Criminologia da
Universidade de Estocolmo (2016) acaba de premiar os trabalhos acadêmicos com
destaque na área. Foram escolhidos trabalhos que se dedicaram ao conhecimento
sobre os elementos das relações entre pais e filhos que podem ou não
influenciar a prática da violência e do cometimento de crimes.
De maneira geral, os estudos
apontam para uma complexidade maior do que normalmente se supõe ao apontar uma
relação direta entre pais violentos e crianças violentas.
A importância do envolvimento
das crianças com os pais
O primeiro desses estudos
começou em 1965, quando o pesquisador Travis Hirschi recolheu dados sobre 4.077
adolescentes em Richmond, Califórnia, desenvolvendo sua “Teoria do vínculo
social” do crime. A teoria de Hirschi se tornou uma das teorias criminológicas
mais influentes da era atual, estimulando muitas pesquisas e investigações na
área.
A teoria não perguntou por
que as pessoas desrespeitam a lei, mas porque as pessoas não o fazem. A
conclusão que ele tira é que os adolescentes decidem não cometer crimes de
acordo com o grau de seu apego aos pais, seu compromisso com o sucesso
convencional, o envolvimento com atividades convencionais e as crenças em
valores morais tradicionais.
Em suas análises dos
registros policiais sobre as atitudes desses adolescentes infratores, Hirschi
mostrou a importância do apego aos pais para moldar o comprometimento,
envolvimento e crença dos jovens. Mesmo com pais não convencionais, e até mesmo
com histórico criminal, segundo o estudo, o adolescente que possui fortes
ligações com um ou ambos os pais tendem a agir prevenindo a delinquência
(levando até mesmo a um aumento do respeito pela polícia).
Violência gera violência?
Enquanto Hirschi mostrou os
efeitos positivos do envolvimento entre pais e filhos, a pesquisadora Cathy
Spatz Widom, outra ganhadora do Prêmio, fez pesquisa sistemática sobre o que os
pais fizeram de errado. Após acompanhar 908 crianças entre 1967-71 em uma
cidade do Meio-Oeste norte-americano que, antes de 11 anos de idade, tinham
sido vítimas de abuso ou negligência criminosa cometidas por seus pais ou
responsáveis, ela comparou-os a uma amostra correspondente de 667 crianças que
não foram vítimas dos mesmos abusos.
Duas décadas depois, ela
descobriu que os maus-tratos contra as crianças aumentou as taxas de crimes
cometidos quando elas se tornaram adultas, mas a maioria das crianças
maltratadas não cometeram crimes na vida adulta. Essa evidência sugere uma
relação mais complexa entre pais violentos e crianças maltratadas,
diferentemente da teoria tradicional do “ciclo de violência”, segundo a qual
violência gera violência – algo que não foi constatado em três quarto dos
casos. O trabalho de Cathy estendeu a evidência de Hirschi, mostrando que mesmo
maus pais podem ter boas características, caso construam fortes laços afetivos
com seus filhos, levando as crianças a obedecer a lei.
Por fim, também foi premiado
o trabalho de Per-Olof Wikström que ofereceu provas mais detalhadas sobre os
processos pelos quais as crianças negociam seus interesses entre seus pais e
colegas. Em um estudo de dez anos com 716 famílias na etnicamente diversa
cidade de Peterborough, Inglaterra, Wikström desenvolveu sua teoria expandindo
muito as descobertas anteriores de seus co-vencedores (Cathy e Hirschi).
Acompanhando o comportamento
dos adolescentes no dia-a-dia, inclusive em ambientes moralmente perigosos,
Wikstrom observou as crenças morais dos adolescentes e a propensão deles para
cometer crimes. Entrevistando pais e crianças, Wikström descobriu alguns
insights sobre o papel que os pais desempenham na prevenção da criminalidade
juvenil.
Via Abordagem Policial
Um comentário:
Com certeza os pais tem uma grande participação na vida adulta dos filhos,que valores eu passo ao meu filho? Com que frequência participo de suas decisões?como oriento meu filho para enfrentar o mundo?como meu exemplo tem ajudado em suas escolhas?são perguntas que muitos pais esquecem e deixam a permissividade aflorar e esquecem que o futuro de seus filhos são frutos de uma educação.muito bom o artigo
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