A população das cidades alvos dos assaltos reclamam da reincidência e do terror causado pelos bandidos.
Os ataques de agências bancárias se
tornaram recorrentes no Ceará nos últimos
anos, embora sejam bastante violentas. Só
neste ano, são 36 casos. Os bandos
aterrorizam as cidades que atacam, atiram
contra a Polícia, deixam os moradores
acuados. Os danos que ficam não são apenas
materiais. Depois das dinamites serem
detonadas, a população precisa encontrar
outro banco e recuperar sua tranquilidade. O comerciante Paulo de Tarso Moreira, de
Ocara, disse que já nem sabe quantas vezes
os bancos do município foram atacados.
"Antes mesmo de terminar a reforma da
agência, acontece outra explosão. Nós, comerciantes, ficamos em uma situação complicada,
porque precisamos arriscar fazer uma viagem transportando dinheiro, para realizarmos
pagamentos e depósitos. Isso é um absurdo".
Segundo ele, a população em geral reclama da situação que enfrenta. "Hoje em dia,
praticamente todo mundo precisa do banco. Quando acontece uma coisa dessas, toda a
dinâmica da cidade é afetada. Sem falar no medo que as pessoas sentem de que estas
quadrilhas voltem. Os vizinhos das agências passam por momentos de pânico quando essas
coisas acontecem", afirmou Paulo Moreira.
O titular da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF), Raphael Vilarinho, disse que a Polícia tem feito
o possível para diminuir os transtornos causados à população pelas ações criminosas. Segundo
um levantamento da Delegacia Especializada, de janeiro a junho deste ano ocorreram 32
ataques a banco.
No mesmo período, em 2014, foi registrada a mesma quantidade de crimes
desta natureza.
De acordo com o Vilarinho, os ataques a banco no Ceará começaram no ano de 2009. Em 2012,
houve um aumento expressivo, e os crimes cresceram mais de 100%. "O pico foi em 2012.
Nunca havia sido registrado nada parecido. Foi um crescimento muito difícil de ser contornado.
Eram ataques recorrentes, praticados por bandidos experientes", disse Vilarinho.
Os ataques persistiram e a primeira vez em que foi observada uma queda foi no ano de 2014,
quando houve uma diminuição de 41%. Em 2015, não foi registrada redução ainda, apenas um
empate com o ano passado.
"Quantitativamente, estamos em empate, mas qualitativamente, estamos ganhando.
As quadrilhas têm conseguido cada vez menos levar dinheiro dos bancos, porque os especialistas
estão presos. Todas as pessoas que sabiam manusear explosivos e estavam no Ceará foram
capturadas" declarou Vilarinho.
Consumados
No ano de 2014, dos 32 ataques a banco ocorridos de janeiro a 23 de junho, 21 foram
consumados. Neste ano, de 32 crimes, 14 foram consumados e 19 tentados. Para o delegado, o
número atual comprova que as organizações criminosas perderam suas referências de ações
bem sucedidas, com a prisão dos 15 especialistas que agiam no Estado.
Dentre estes especialistas, Vilarinho cita Francisco de Assis Fernandes da Silva, o 'Barrinha';
Jucelino Costa da Fonseca, o 'Celino'; e Francisco Gilson Lopes Justino, o 'MeiaLuz', como as
mais significativas. "Com a captura deles e de todos os outros chefes, muitas quadrilhas foram
desintegradas. Todos eram indivíduos perigosos, articulados no mundo do crime, com alto poder
para arregimentar comparsas e armas de grosso calibre. Os grupos perderam muito de seu
poder, quando eles saíram de circulação.
O 'Barrinha' e o 'Celino', são considerados tão danosos
que foram enviados para presídios federais de segurança máxima, para que não exista a
possibilidade de que mantenham algum esquema, mesmo reclusos", declarou o delegado.
Vilarinho revelou que as quadrilhas que estão agindo no Ceará são interestaduais, mas têm
integrantes locais. "As organizações precisam de pessoas que saibam dar dicas do
funcionamento do banco, precisam de gente do local que será alvo. Sendo assim, existe a
presença de cearenses nestes ataques, mas eles não têm a menor experiência com explosivos,
tanto é que destroem as agências inteiras, só não conseguem abrir o cofre, que é o que importa
para eles".
O delegado lembra que os outros ataques, em que não são utilizados explosivos, também
caíram. "Ainda temos casos em que as agências são assaltadas na presença dos funcionários e
também alguns com uso de maçarico, mas estes também caíram.
Os 'maçariqueiros' todos são
da Região Sul, se dificultamos a entrada deles, ou colocamos empecilhos para que entrem no
Estado, certamente eles se afastarão. E é isto que tem acontecido", declarou.
Migração
Raphael Vilarinho revela que as quadrilhas que roubam bancos são as mesmas que atacavam
carros fortes, mas migraram. "A dificuldade de interceptar um carro forte é muito maior. Além de
ser um veículo em movimento, é blindado e tem vigilantes treinados lá dentro. É diferente de
atacar uma agência bancária, onde muitas vezes, as normas de segurança não são nem
cumpridas em sua totalidade". O delegado disse que enfrenta dificuldades com a falta de
investimento dos bancos em segurança. "Muitas vezes eles não nos oferecem o mínimo em
subsídios para investigarmos os fatos".
Para Vilarinho, o fato dos ataques a banco diminuírem contribui para que outros delitos também
sofram este impacto. "O crime organizado é uma teia bem formada. As quadrilhas utilizam o
dinheiro que elas roubam dos bancos para comprarem armas e investirem no tráfico de drogas.
Se elas não conseguem se capitalizar, tudo isto é prejudicado".
Fonte: DN
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