Atuar em manifestações populares é um dos
maiores desafios operacionais para um policial. É muito difícil, para não dizer
impossível, manter total controle dos movimentos coletivos na rua, dada a
variedade de intenções (tanto de integrantes das manifestações quanto de
infiltrados que, muitas vezes, tem intenções políticas ao causar algum
distúrbio num movimento a princípio pacífico).
O ideal é atuar de maneira pontual, cessando cirurgicamente
a prática de alguma violência, reagindo apenas contra o responsável por ela.
Mas isso é o ideal. Nem sempre há treinamento e equipamento para isso. Às vezes
simplesmente não é possível identificar responsáveis. Às vezes falta paciência,
preparo psicológico e controle das emoções.
Considerar todos esses elementos é essencial
para analisar qualquer atuação policial em manifestações, como a que ocorre
agora em Curitiba, onde mais de 200 manifestantes (a maioria professores) já
foram feridos por conta da ação policial no Paraná. Os professores estão se
opondo a um pacote de austeridade do Governo Estadual, suprimindo direitos trabalhistas
e previdenciários.
Para quem não lembra, o atual Governador do
Paraná é o mesmo que, ano passado, declarou que “uma pessoa com curso superior
muitas vezes não aceita cumprir ordens de um oficial ou um superior, uma
patente maior”, se opondo à exigência de curso superior para os policiais
militares.
Na operação para reprimir a manifestação dos
professores, o efetivo utilizado é maior que o aplicado na capital curitibana
diariamente!
Sobre as condições de trabalho em que se
encontram os policiais militares, o Abordagem Policial recebeu algumas
manifestações de PMs reclamando dos turnos de trabalho e das instalações a que
estão submetidos. Em um caso específico, a própria imprensa divulgou que
policiais militares do interior convocados para atuar na capital foram expulsos
de um hotel por falta de pagamento das diárias por parte do Governo.
PMs
punidos por se recusarem a atuar
Não bastassem todos esses detalhes que mostram
como a situação está sendo conduzida com o fígado, e não com o cérebro,
adiciona-se o fato de policiais militares estarem presos por se recusarem a
participar do cerco contra professores.
Outra fonte informa que cerca de 50 policiais
militares teriam sido presos.
De quem é
a culpa?
Está claro que há uma orientação política
irresponsável do Governo para a utilização do aparato policial (composto por
trabalhadores) para reprimir trabalhadores se manifestando. Aliás, é o que
parece, desrespeitando até mesmo condições básicas para a atuação dos
policiais.
Estando os policiais subordinados a um Governo
que se comporta desta forma, é preciso ter muita inteligência e moderação para
conduzir esse tipo de ação, pois não é o governador que responde objetivamente
pelo tiro disparado, pelo bastão lançado e pelo agente químico utilizado.
Todo policial sabe que entre a ordem e a
execução existe a capacidade de ser razoável no cumprimento da missão. Depois
não adianta dizer que “só estava cumprindo ordens”, ainda mais em uma operação
para conter professores, colegas de funcionalismo público, reivindicando
direitos.
Fonte: Abordagem Policial
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