A Polícia investiga a atuação de um advogado cearense nas ações da quadrilha de narcotraficantes.
A prisão de dois colombianos e um cearense, realizada pela Polícia Civil, por meio da Divisão de Combate ao Tráfico de Drogas (DCTD), aponta para um esquema de tráfico nacional e internacional, que estava funcionando com bases, em Fortaleza. Segundo o delegado Pedro Viana, diretor da DCTD, outras pessoas que podem estar envolvidas no esquema, inclusive um advogado que é processado por associação para o tráfico em outro procedimento, serão investigadas.
A operação que culminou na prisão dos três suspeitos foi deflagrada, na noite de quinta-feira (18), na Avenida I, do bairro Jardim Castelão.
O cearense Sirdes Mendes Cavalcante Júnior, 32; e os colombianos Hermes Audrey Lara Alferez, 36, e Pablo Andres Pedraza Torres, 27, trafegavam em um automóvel Fiat, modelo Siena, de cor bege, inscrito com as placas HYF-4436, quando foram abordados pelos policiais.
"Sirdes tinha sido preso por nós, no ano passado. Informações do nosso Departamento de Inteligência deram conta de que ele tinha voltado a traficar e estava na companhia destes colombianos. Passamos cerca de 15 dias investigando a rotina deles e conseguimos capturá-los", revelou Viana.
Ao serem interceptados pelos agentes, os suspeitos não assumiram de pronto que estavam em posse de drogas, mas a Polícia Civil acabou encontrando 5,3 quilos de cocaína pura e 14 quilos de um pó branco, que será enviado para análise da Perícia Forense do Ceará (Pefoce), escondidos no forro da casa onde Hermes e Pablo moravam.
"Não existe produção de cocaína no Brasil. Geralmente, esta droga que é comercializada aqui vem da Colômbia, Venezuela ou Peru. Quando chegam, o grau de pureza é muito alto, mas para aumentarem o volume, os traficantes misturam a essa substâncias, que podem ser mineíta ou fenacetina, num processo que chamamos de 'desdobrar' a droga", declarou Viana.
No Brasil
Ao ser interrogado na Divisão, Hermes Alferez disse que está no Brasil há dois anos. Ele afirmou que morava em Manaus, onde conheceu um homem chamado 'Pedri', que o convidou para morar no Ceará.
"Ele veio para cá com esse tal 'Pedri', que ainda estamos tentando descobrir quem é. Foram morar primeiramente no Icaraí, em Caucaia, mas acabaram se desentendo e Hermes veio morar em Fortaleza, em uma pousada que é do advogado, que responde por um processo por associação para o tráfico junto com Sirdes Júnior. Na pousada, Hermes conheceu Pablo Torres, que morava no Ceará há pouco mais de um mês, na mesma pousada", disse Pedro Viana. Já Sirdes Júnior contou à Polícia que era amigo dos colombianos e por isso ofereceu a casa alugada, onde morava, para eles ficarem. "Encontramos um contrato de locação da casa, datado do dia 1º de agosto deste ano, feito pelo Sirdes. Enquanto emprestava a casa, ele estava morando em um flat no Porto das Dunas, em Aquiraz, que pertence a outro colombiano. Essa história toda deles de casa emprestada, de amizade, de tanta generosidade é uma grande mentira. Tudo isto fazia parte da organização da quadrilha", afirmou Viana.
Comprovantes
Comprovantes de depósitos feitos, via casa de câmbio, no Ceará e em Manaus para a Colômbia, foram apreendidos pela Polícia na casa dos suspeitos. Cerca de R$ 17 mil foram depositados, em várias transações realizadas por diversas pessoas, nos dias 25 de junho e 17 de julho, deste ano. Conforme Pedro Viana, as pessoas que fizeram os depósitos serão identificadas e investigadas no inquérito.
"Além disto, apreendemos também um envelope com um endereço de Manaus, que seria enviado com cocaína, em um ônibus de passageiros normal. Isto indica que além do tráfico internacional, já que a droga vinha da Colômbia, eles também tinham uma rede de tráfico interestadual", disse o delegado.
Raphael
Da primeira vez em que foi preso, Sirdes Júnior fazia parte de um esquema de venda de entorpecentes chefiado por Raphael Henrique Silva de Oliveira, o 'Raphael Arcanjo', considerado por Pedro Viana como um dos maiores traficantes do Ceará. Raphael estava preso, mas foi beneficiado, em julho, com habeas corpus expedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Na época da primeira prisão de Júnior, com o desenrolar das investigações, o advogado da quadrilha também foi indiciado e acabou sendo processado junto com os clientes. "O processo foi distribuído para a 2ª Vara de Tóxicos e o promotor de Justiça, Gomes Câmara, achou por bem indiciar o advogado, porque entendeu que ele podia fazer parte do esquema. Agora, ele aparece como dono da pousada, onde os traficantes presos junto com uma pessoa que está sendo processada no mesmo procedimento que ele, moravam. Isto é sim um motivo para que investiguemos se há, ou não, a participação dele na organização criminosa", considerou Pedro Viana.
O delegado ressaltou que as pessoas presas são integrantes da organização, mas seus potenciais são muito pequenos diante dos 'cabeças'. "Nessa história toda eles só atendem ordens. As pessoas grandes desta história pensam estar protegidas, mas nós vamos chegar até elas".
Márcia Feitosa
Repórter
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