29 de junho de 2014

VIOLÊNCIA: 144 MULHERES ASSASSINADAS NOS PRIMEIROS MESES NO CEARÁ

Os crimes contra vítimas do sexo feminino ocorreram nos seis primeiros meses deste ano em todo o Estado.

Somente até maio deste ano, 1.992 pessoas foram vítimas de crimes como homicídios, latrocínios e lesão corporal seguida de morte, no Ceará. Dentre elas, estão 144 mulheres, de acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). Os crimes que, geralmente, acometem mulheres estão ligados a questões passionais ou ao tráfico de drogas, segundo a Polícia.
A maioria dos casos ainda são motivados por violentas emoções, mas cresce o número de assassinatos em que a vida das vítimas valeram três ou quatro pedras de crack.
Na última terça-feira, uma médica chamada Elisabete Bernardes foi morta a tiros pelo ex-companheiro, Onofre Ribeiro, que não se conformava com o fim do relacionamento. Após dar um tiro no peito da professora de uma faculdade de medicina da Cariri, Ribeiro se suicidou com um tiro na boca.

O caso ocorrido no bairro Salesianos, em Juazeiro do Norte, chocou a sociedade. Muitas demonstrações de indiganção dos alunos, colegas de trabalho e amigos de Elizabete foram presenciadas durante o velório e sepultamento dela. Para a professora Jânia Perla Aquino, do laboratório de Estudo da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC), os crimes que envolvem mulheres são complexos e contraditórios, principalmente, porque acontecem em todos os setores da sociedade.

"Muitas vezes, a sociedade não consegue conceber que uma pessoa de nível intelectual elevado seja vítima ou cometa um crime. As pessoas se chocam ao saber de casos como o desta médica. No entanto, infelizmente, não é raro que o machismo e a busca pela submissão feminina demonstre que continuamos sendo o elo mais frágil das ligações entre gêneros", afirmou a estudiosa.

Para Jânia Aquino, assim como aconteceu em todos os setores da sociedade, a ascensão feminina também se deu no mundo do crime e por isto o tráfico tem sido outro forte motivador de assassinatos. "O consumo de drogas aumentou muito entre as mulheres. Isto as deixa mais suscetíveis a se envolverem também, com a negociação dos entorpecentes. Como presidem empresas e chefiam grandes organizações, algumas mulheres conseguiram chegar ao topo do mundo do tráfico. Mas até nisto, existe o machismo e elas são mais vulneráveis. A dona-de casa, a empresária bem-sucedida, ou a 'mula' do tráfico estão inseridas num contexto social de relações, em que alguns homens querem dominar a qualquer custo".

Eliminada

O exemplo de Daniela de Paula Moreira, 33, pode ilustrar a fala da professora. Ela foi assassinada, no último dia 14 de maio, em frente a uma escola particular, situada na Rua Professor José Henrique, no bairro Messejana. Segundo a Polícia, ela teria ido pegar a filha, após as aulas, quando foi abordada por dois rapazes que ocupavam um ciclomotor.

Eles efetuaram vários disparos e fugiram, em seguida. A 'cinquentinha' foi abandonada alguns metros depois de onde o fato aconteceu e os atiradores seguiram a pé e nunca foram presos. Daniela foi atingida por três tiros na cabeça e sua filha, de apenas cinco anos, foi lesionada na mão. Na tentativa de proteger a mãe, a menina teria colocado as mãos na linha de tiro para impedir que as balas chegassem até ela, segundo a equipe da Perícia Forense do Ceará (Pefoce) que esteve no local.

Segundo as autoridades policiais que apuraram o caso, não há solução, até agora. A motivação e os suspeitos não formam identificados, embora já existam algumas linhas de investigação. O inquérito sobre o crime foi aberto na delegacia da área, o 6ºDP (Messejana), que na época era comandada pelo delegado Antunes Teixeira. Porém, Teixeira se aposentou e a delegada Ana Cristina, que assumiu a delegacia, informou a reportagem, que o procedimento foi enviado para a Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), já que permanece com a autoria desconhecida.

Partilha

A reportagem entrou em contato com amigos e conhecidos da vítima, que corroboram uma das versões que a DHPP apura. Eles disseram que a família de Daniela prefere não se manifestar sobre o assunto, porque ela teria sido eliminada por conta de uma partilha de bens.

"Desde o dia em que a Daniela morreu achamos aquilo muito estranho os boatos que se espalharam. Durante o velório, percebemos que existia uma dor muito grande e um lamento por parte da família, mas não havia indignação. De certa forma, era como se eles soubessem que alguém poderia fazer aquilo com ela", declarou um deles.

O rapaz disse que os rumores no bairro deram conta de muitas versões para os fatos, mas aos poucos as coisas foram ficando claras. "São muitos os elementos que nos levam a crer que aquilo não foi um problema de Segurança Pública, foi uma briga que se complicou demais".

O diretor-adjunto da DHPP, Ricardo Romagnoli disse que é possível que a desconfiança da comunidade se confirme, mas até agora nada de conclusivo pode ser afirmado. "O inquérito está na DHPP e estamos dando prosseguimento as investigações. Conhecemos esta hipótese e é possível sim, que ela tenha sido morta por conta de uma divisão de bens", disse.


A filha de Daniela Moreira colocou uma peça de platina no dedo mínimo lesionado pela bala. Ela e a irmã, de cinco meses, moram atualmente, com a avó materna, a quem já chamam de mãe. Ela mudou de colégio.

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