Desde domingo, pelo menos sete coletivos de
diferentes linhas foram incendiados na Grande Capital.
Até ontem, sete coletivos sofreram ataques com
incêndios na Grande Fortaleza. Uma das ocorrências foi registrada na madrugada
de segunda para terça-feira. A ação atingiu um veículo que fazia a linha 631, e
ocorreu na altura do Km 11 da BR-116, em Messejana.
Por volta das 14h de ontem, dois homens foram
flagrados ateando fogo em um ônibus no bairro Edson Queiroz. Populares
contiveram o incêndio e acionaram a Polícia. O fogo atingiu dois bancos do
veículo.
Muito além do contratempo para ajustar os
horários à frota reduzida, o fortalezense teve de enfrentar ainda outra
situação: o medo de uma nova modalidade de violência que começa a se instalar
na cidade. Conforme a doméstica Paula dos Santos, 30, os incidentes com os
coletivos representam uma preocupação a mais. "Se durante o dia já
perigoso andar de ônibus por causa dos assaltos, imagina de noite, com o risco
de incêndio", relata.
Para o vendedor Nilton Filho, 26, o risco de
depender dos coletivos se agrava. "A gente tenta pegar outro ônibus, mas
tem que ir trabalhar e acaba se arriscando", constata.
Para os motoristas e cobradores, a nova situação
se une às outras dificuldades enfrentadas diariamente. "Sofremos com
insegurança, ofensas de passageiros, pressão das empresas, estresse do
trânsito, e agora, com mais essa onda dos ataques aos ônibus, fica muito
difícil", diz o motorista Nildo Barroso, 36, na profissão há cinco anos.
Conforme o diretor do Sindicato dos
Trabalhadores em Transporte Rodoviário no Estado do Ceará (Sintro), Tobias
Brandão, a sequência de ataques demonstra como os usuários e trabalhadores em
transporte público estão expostos às ações criminosas. "Os assaltos
cresceram mais de 400%", afirma. Ainda de acordo com o diretor, o Sintro
já solicitou reforço na segurança do transporte público, como blitze surpresas
em rotas de ônibus, inclusão de servidoras para fazer a revista em passageiras
e a presença de policiais descaracterizados nos coletivos.
Efeitos
Os episódios envolvendo incêndios em coletivos
são cenas noticiadas com certa frequência em outros Estados e, geralmente,
estão ligados a grupos de tráfico. A população teme ter de enfrentar cenas até
então inexistentes no cotidiano da capital cearense.
"É mais uma experiência traumatizante para
as pessoas, que são constantemente vítimas de ações criminais, e agora estão
sujeitas a presenciar esses eventos violentos", analisa a antropóloga e
pesquisa do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal
do Ceará, Jânia Perla Diógenes.
Para ela, essas ações contribuem para a imagem
de cidade perigosa associada à Fortaleza e aumenta a sensação de insegurança.
"Seja qual for a motivação desses ataques, os efeitos são muito negativos,
principalmente para o transporte público, que já é rudimentar e ineficaz, e
fica com a frota reduzida", avalia.
Corujões têm atividades paralisadas
Na madrugada de ontem, motoristas de todos
ônibus das linhas Corujão, que funcionam durante a madrugada, paralisaram suas
atividades nos terminais de Fortaleza por medo dos ataques. Os coletivos só voltaram
a funcionar novamente na manhã desta terça-feira.
Conforme justificou a Empresa de Transporte
Urbano de Fortaleza (Etufor), os motoristas das 26 linhas Corujão estavam com
medo de sofrer novos atentados e, após decisão dos diretores das empresas, paralisaram
as atividades nos terminais de ônibus da cidade.
Ainda de acordo com a Etufor, não existe nenhuma
movimentação para qualquer paralisação durante a madrugada desta quarta-feira,
mas, devido ao receio dos profissionais, caso exista alguma nova ocorrência do
tipo, é possível que os motoristas eles parem novamente nos terminais.
Sem feridos
Até a noite de ontem, pelo menos oito coletivos
haviam sido queimados na Grande Fortaleza. Dois deles foram incendiados na
noite da última segunda-feira (17), um na cidade de Caucaia e outro no bairro
de Messejana. Apesar da proporção dos casos, ninguém ficou ferido nas ações.
Quatro outras ações desse tipo ocorreram durante
o fim de semana. Somente na noite do último domingo, dia 16 de fevereiro,
quatro ônibus foram incendiados. As ações aconteceram nos bairros Conjunto
Ceará, Jardim América e Siqueira. A sede da Secretaria de Justiça (Sejus),
também foi alvo de incidentes, sendo atacada a tiros por volta das 22h30 de
domingo.
Ontem, mais dois ônibus sofreram ataque. Um
deles ocorreu no bairro Messejana. Já o segundo incêndio a ônibus aconteceu no
bairro Edson Queiroz, porém as chamas foram controladas a tempo e não houve
perda total do veículo.
A Polícia Civil abriu inquéritos para apurar os
fatos e não descartou a hipótese de que os atentados seriam uma retaliação de
criminosos após o assassinato de dois detentos no Sistema Penal, ocorridos
também no último domingo.
Sete assaltos por dia nos coletivos
Durante todo o ano passado, o Sindicato das
Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus)
registrou 2.517 assaltos na Capital. Portanto, aconteceram sete ocorrências por
dia nos coletivos no ano de 2013.
Dessas 2.517 ocorrências; 181 foram em janeiro,
186 em fevereiro, 220 em março, 174 em abril, 182 em maio, 201 em junho, 254 em
julho, 207 em agosto, 258 em setembro, 270 em outubro, 197 em novembro e 187 em
dezembro.
Já em 2012, foram registrados 615 roubos dentro
dos veículos que fazem o transporte público em Fortaleza. Dessa forma, de 2012
para o ano passado, houve um aumento de 309%, ou seja, o número mais do que
quadruplicou. Se for feita comparação com 2011, quando houveram 279
ocorrências, o crescimento foi de 802%.
Para o assessor jurídico do Sindiônibus, Cleto
Gomes, que participou de reunião com o governo do Estado; o sindicato, antes do
encontro com a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), estava
muito preocupado devido ao sério problema de insegurança. "As medidas
adotadas pela SSPDS, juntamente com toda a cúpula da segurança, deixam os
empresários relativamente tranquilos para que possam transportar os usuários de
forma regular", comentou o assessor jurídico
Solução
Agora, o órgão espera que os problemas sejam
resolvidos com a investigação que está sendo feita pela Polícia. "Os
policiais vão acompanhar de forma mais efetiva os coletivos no sentido de
identificar eventuais problemas como os que aconteceram. Eles vão estar mais
próximos principalmente dos corujões para evitar que novos fatos dessa natureza
venham a ocorrer. Foi esse o prometido", afirmou.
SAIBA MAIS
Domingo (16/02)
Ônibus é incendiado no bairro Jardim América por
volta das 22h40
Segunda-feira (17/02)
Ônibus é incendiado no Siqueira, nos primeiros
minutos do dia. À 1h, dois coletivos foram queimados no Conjunto Ceará. À
noite, outro
Ônibus foi incendiado em Caucaia
Terça-feira (18/02)
Ônibus é incendiado em Messejana durante a
madrugada. À tarde, mais um ataque foi registrado no bairro Edson Queiroz. Dois
assentos de um coletivo foram queimados.
Fonte: DN
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