19 de fevereiro de 2014

POLÍCIA ANUNCIA PLANO CONTRA ATENTADOS; 5 SÃO PRESOS



Desde domingo, pelo menos sete coletivos de diferentes linhas foram incendiados na Grande Capital.

Até ontem, sete coletivos sofreram ataques com incêndios na Grande Fortaleza. Uma das ocorrências foi registrada na madrugada de segunda para terça-feira. A ação atingiu um veículo que fazia a linha 631, e ocorreu na altura do Km 11 da BR-116, em Messejana.
Por volta das 14h de ontem, dois homens foram flagrados ateando fogo em um ônibus no bairro Edson Queiroz. Populares contiveram o incêndio e acionaram a Polícia. O fogo atingiu dois bancos do veículo.


Muito além do contratempo para ajustar os horários à frota reduzida, o fortalezense teve de enfrentar ainda outra situação: o medo de uma nova modalidade de violência que começa a se instalar na cidade. Conforme a doméstica Paula dos Santos, 30, os incidentes com os coletivos representam uma preocupação a mais. "Se durante o dia já perigoso andar de ônibus por causa dos assaltos, imagina de noite, com o risco de incêndio", relata.

Para o vendedor Nilton Filho, 26, o risco de depender dos coletivos se agrava. "A gente tenta pegar outro ônibus, mas tem que ir trabalhar e acaba se arriscando", constata.


Para os motoristas e cobradores, a nova situação se une às outras dificuldades enfrentadas diariamente. "Sofremos com insegurança, ofensas de passageiros, pressão das empresas, estresse do trânsito, e agora, com mais essa onda dos ataques aos ônibus, fica muito difícil", diz o motorista Nildo Barroso, 36, na profissão há cinco anos.

Conforme o diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário no Estado do Ceará (Sintro), Tobias Brandão, a sequência de ataques demonstra como os usuários e trabalhadores em transporte público estão expostos às ações criminosas. "Os assaltos cresceram mais de 400%", afirma. Ainda de acordo com o diretor, o Sintro já solicitou reforço na segurança do transporte público, como blitze surpresas em rotas de ônibus, inclusão de servidoras para fazer a revista em passageiras e a presença de policiais descaracterizados nos coletivos.

Efeitos

Os episódios envolvendo incêndios em coletivos são cenas noticiadas com certa frequência em outros Estados e, geralmente, estão ligados a grupos de tráfico. A população teme ter de enfrentar cenas até então inexistentes no cotidiano da capital cearense.

"É mais uma experiência traumatizante para as pessoas, que são constantemente vítimas de ações criminais, e agora estão sujeitas a presenciar esses eventos violentos", analisa a antropóloga e pesquisa do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará, Jânia Perla Diógenes.

Para ela, essas ações contribuem para a imagem de cidade perigosa associada à Fortaleza e aumenta a sensação de insegurança. "Seja qual for a motivação desses ataques, os efeitos são muito negativos, principalmente para o transporte público, que já é rudimentar e ineficaz, e fica com a frota reduzida", avalia.

Corujões têm atividades paralisadas

Na madrugada de ontem, motoristas de todos ônibus das linhas Corujão, que funcionam durante a madrugada, paralisaram suas atividades nos terminais de Fortaleza por medo dos ataques. Os coletivos só voltaram a funcionar novamente na manhã desta terça-feira.

Conforme justificou a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), os motoristas das 26 linhas Corujão estavam com medo de sofrer novos atentados e, após decisão dos diretores das empresas, paralisaram as atividades nos terminais de ônibus da cidade.

Ainda de acordo com a Etufor, não existe nenhuma movimentação para qualquer paralisação durante a madrugada desta quarta-feira, mas, devido ao receio dos profissionais, caso exista alguma nova ocorrência do tipo, é possível que os motoristas eles parem novamente nos terminais.

Sem feridos

Até a noite de ontem, pelo menos oito coletivos haviam sido queimados na Grande Fortaleza. Dois deles foram incendiados na noite da última segunda-feira (17), um na cidade de Caucaia e outro no bairro de Messejana. Apesar da proporção dos casos, ninguém ficou ferido nas ações.

Quatro outras ações desse tipo ocorreram durante o fim de semana. Somente na noite do último domingo, dia 16 de fevereiro, quatro ônibus foram incendiados. As ações aconteceram nos bairros Conjunto Ceará, Jardim América e Siqueira. A sede da Secretaria de Justiça (Sejus), também foi alvo de incidentes, sendo atacada a tiros por volta das 22h30 de domingo.

Ontem, mais dois ônibus sofreram ataque. Um deles ocorreu no bairro Messejana. Já o segundo incêndio a ônibus aconteceu no bairro Edson Queiroz, porém as chamas foram controladas a tempo e não houve perda total do veículo.

A Polícia Civil abriu inquéritos para apurar os fatos e não descartou a hipótese de que os atentados seriam uma retaliação de criminosos após o assassinato de dois detentos no Sistema Penal, ocorridos também no último domingo.

Sete assaltos por dia nos coletivos

Durante todo o ano passado, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus) registrou 2.517 assaltos na Capital. Portanto, aconteceram sete ocorrências por dia nos coletivos no ano de 2013.

Dessas 2.517 ocorrências; 181 foram em janeiro, 186 em fevereiro, 220 em março, 174 em abril, 182 em maio, 201 em junho, 254 em julho, 207 em agosto, 258 em setembro, 270 em outubro, 197 em novembro e 187 em dezembro.

Já em 2012, foram registrados 615 roubos dentro dos veículos que fazem o transporte público em Fortaleza. Dessa forma, de 2012 para o ano passado, houve um aumento de 309%, ou seja, o número mais do que quadruplicou. Se for feita comparação com 2011, quando houveram 279 ocorrências, o crescimento foi de 802%.

Para o assessor jurídico do Sindiônibus, Cleto Gomes, que participou de reunião com o governo do Estado; o sindicato, antes do encontro com a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), estava muito preocupado devido ao sério problema de insegurança. "As medidas adotadas pela SSPDS, juntamente com toda a cúpula da segurança, deixam os empresários relativamente tranquilos para que possam transportar os usuários de forma regular", comentou o assessor jurídico

Solução

Agora, o órgão espera que os problemas sejam resolvidos com a investigação que está sendo feita pela Polícia. "Os policiais vão acompanhar de forma mais efetiva os coletivos no sentido de identificar eventuais problemas como os que aconteceram. Eles vão estar mais próximos principalmente dos corujões para evitar que novos fatos dessa natureza venham a ocorrer. Foi esse o prometido", afirmou.

SAIBA MAIS

Domingo (16/02)

Ônibus é incendiado no bairro Jardim América por volta das 22h40

Segunda-feira (17/02)

Ônibus é incendiado no Siqueira, nos primeiros minutos do dia. À 1h, dois coletivos foram queimados no Conjunto Ceará. À noite, outro

Ônibus foi incendiado em Caucaia

Terça-feira (18/02)

Ônibus é incendiado em Messejana durante a madrugada. À tarde, mais um ataque foi registrado no bairro Edson Queiroz. Dois assentos de um coletivo foram queimados.

Fonte: DN

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