Partiu de um repórter da GloboNews, Bernardo
Menezes — e espero que o fato lhe sirva de lição e a quem deu curso à
informação falsa que ele veiculou sem uma verificação mínima —, a afirmação de
que o artefato explosivo que atingiu a cabeça do cinegrafista Santiago Andrade
tinha partido da polícia.
Infelizmente, a informação foi reproduzida ainda
nesta manhã no “Bom Dia Brasil”, da Rede Globo. O conjunto da obra é
tecnicamente indesculpável (vídeo aqui). Sabem por quê?
As primeiras fotos que vieram a público sobre a
agressão são da Agência Globo. Foi com base nelas que escrevi meu texto
assegurando — por óbvio — que aquele troço não poderia ser uma bomba de gás ou
uma bomba de efeito moral. Quem conhece os dois artefatos sabe que não produzem
aquele tipo de luz, de faíscas, de fragmentos.
Eu conheço porque já enfrentei as duas. Mas
ninguém precisa apanhar da polícia ou enfrentar bombas para conhecê-las. Basta
a prudência. E, ouso dizer, é preciso ir para as ruas também com o espírito
desarmado. Acho que jornalistas estão tão viciados em chamar manifestações
violentas de “pacíficas” que já não conseguem enxergar o que ocorre. A
ideologia — ou o preconceito — faz mais mal à visão do que a minha espetacular
miopia.
E que se note: eu não neguei que fosse bomba só
com base na minha “experiência”. Se a gente não toma cuidado, nada distorce
tanto a verdade como estar no lugar em que os fatos acontecem. Um jornalista
que estivesse em Dresden quando houve o ataque dos Aliados poderia ter a
impressão de que os nazistas eram as vítimas na Segunda Guerra, não é? Espalhe
repórteres entre os alvos de Bashar Al Assad, e ele parecerá o carniceiro que
é. Como não os há entre os alvos de seus opositores, estes não parecem os
carniceiros que também são. Mesmo tendo a certeza de que aquilo não era bomba
de gás, de que não era bomba de efeito moral, tomei o cuidado de perguntar a
dois policiais.
Não quero satanizar ninguém, não! Aqueles que
deixaram a informação de Menezes ir ao ar, sem a devida checagem, devem dividir
com ele a responsabilidade.
Coisas estranhas
Aliás, sabem onde li primeiro que NÃO ERA UMA
BOMBA DA POLÍCIA??? Na edição online de “O Globo”, logo depois do fato. Sim,
senhores! Aliás, havia lá também o testemunho de um repórter do jornal. Ele
vira o artefato partir de um black bloc. MINUTOS DEPOIS, A INFORMAÇÃO
DESAPARECEU DO SITE.
Ou seja: entre a versão daquele que viu a bomba
(que bomba não era) partir da polícia e a daquele que vira o explosivo partir
de um black bloc, o primeiro ganhou. Afinal, ele tinha a narrativa pior para as
“forças da repressão”, né? A Abraji, que se intitula — e acredito que seja —
uma associação de jornalistas “INVESTIGATIVOS”, preferiu emitir uma nota toda
ambígua, sem investigar minimamente as imagens.
Eu publiquei um post às 22h52 evidenciando por
que aquela coisa não poderia ter partido da polícia. Às 4h29 desta madrugada,
lamentava a covardia da imprensa, que se negava a reconhecer o óbvio. O “Bom
Dia Brasil” foi ao ar, sei lá, às seis e pouco da manhã. Já dava tempo, creio,
não de ter me lido (os jornalistas da Globo certamente têm mais o que fazer),
mas de ter visto as fotos e consultado alguns especialistas.
No texto que escrevi ontem e no comentário que
fiz hoje de manhã na Jovem Pan, lamentei que a própria Band, em nota, tivesse
flertado com a possibilidade de ser uma bomba da polícia.
Não sei como as duas emissoras vão se desculpar.
Sei que devem desculpas: aos telespectadores e à Polícia Militar. O erro de
visão e de jornalismo é grave porque muda a autoria de um crime grotesco, que
ainda pode vir a ser um assassinato. De resto, trata-se de uma agressão à
imprensa livre.
Para encerrar
Ouso dizer que algo assim estava pipocando na
área, pronto para acontecer. Infelizmente, a indisposição dos jornalistas,
especialmente das TVs, com as polícias e a determinação de tratar arruaceiros
como manifestantes, sob a patrulha severa de milícias nas redes sociais,
acabariam dando nisso. Esse tipo de comportamento não colabora para melhorar
nem o jornalismo nem a democracia.
Não sou Catão de ninguém nem me atribuo esse
papel. Mas conviria que o jornalismo brasileiro voltasse ao livro texto da
Constituição. Liberdade de manifestação não se confunde com baderna.
Tenho a certeza de que haverá um claro e
inequívoco pedido de desculpas.
Por Reinaldo Azevedo
Fonte: VEJA
8 comentários:
Porra de Desculpas, cabe um ação contra a dona globo... isto sim.
Tem apresentador que enche a boca quanto o assunto é policia só pra dar ibope... safados.
Como seria bom se os vândalos quebrassem a rede globo com pedras e paus para ver a posição da tal rede globo.
A globo não gosta de policia. Pois cá para nós dizer que esses tipos de ações são manifestações democráticas meu Deus é muito analfabetismo. Safados e vagabundos e quem os apoia também!
Excelentes comentários ...
Realmente quando o assunto é policia a globo desce o pau. Quero a retratação.
Quem apoia safados; safado é... Rede Globo.
já mataram mais de mil!ficam se fazendo de vítima er?
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