"Há uma quebra na história familiar onde
as idades se acumulam e se sobrepõem e a ordem natural não tem sentido: é
quando o filho se torna pai de seu pai.
É quando o pai envelhece e começa a trotear como
se estivesse dentro de uma névoa. Lento, devagar, impreciso.
É quando aquele pai que segurava com força nossa
mão já não tem como se levantar sozinho. É quando aquele pai, outrora firme e intransponível, enfraquece de vez e demora o dobro da respiração para sair de
seu lugar.
É quando aquele pai, que antigamente mandava e
ordenava, hoje só suspira, só geme, só procura onde é a porta e onde é a janela
- tudo é corredor, tudo é longe.
É quando aquele pai, antes disposto e
trabalhador, fracassa ao tirar sua própria roupa e não lembrará de seus
remédios.
E nós, como filhos, não faremos outra coisa
senão trocar de papel e aceitar que somos responsáveis por aquela vida. Aquela
vida que nos gerou depende de nossa vida para morrer em paz.
Todo filho é pai na morte de seu pai.
Ou, quem sabe, a velhice do pai e da mãe seja
curiosamente nossa última gravidez. Nosso último ensinamento. Fase para
devolver os cuidados que nos foram confiados ao longo de décadas, de retribuir
o amor com a amizade da escolta.
E feliz do filho que é pai de seu pai antes da
morte, e triste do filho que aparece somente no enterro e não se despede um
pouco por dia.
Meu amigo José Klein acompanhou o pai até seus
derradeiros minutos.
No hospital, a enfermeira fazia a manobra da
cama para a maca, buscando repor os lençóis, quando Zé gritou de sua cadeira e:
— Deixa que eu ajudo.
Reuniu suas forças e pegou pela primeira vez seu
pai no colo.
Colocou o rosto de seu pai contra seu peito.
Ajeitou em seus ombros o pai consumido pelo
câncer: pequeno, enrugado, frágil, tremendo.
Ficou segurando um bom tempo, um tempo
equivalente à sua infância, um tempo equivalente à sua adolescência, um bom
tempo, um tempo interminável.
Embalou o pai de um lado para o outro.
Aninhou o pai.
Acalmou o pai.
E apenas dizia, sussurrado:
— Estou aqui, estou aqui, pai!
O que um pai quer apenas ouvir no fim de sua
vida é que seu filho está ali. "
(autor desconhecido - compartilhado por Elodia
Roman)
4 comentários:
emocionante
E MUITAS VEZES FALAR PARA ELE PAI TE AMOOOOOOOOO.
Nossa q lindo chorei muito pq foi exatamente assim q fizemos com minha mãe, eu e meus irmãos e quando infelizmente ela se foi ficou a sensação de dever cumprido de retribuição de tudo q ela tinha feito pela gente durante toda sua vida! Infelizmente a maioria dos filhos ñ agem dessa maneira :'( Mãe eterna em meu coração!!!!
se todos os zé fossem assim todos os pais morreriam felizes mais pra quer falar isso se de 100 só da 1
Postar um comentário