A estudante chegava da escola por volta das 19h30min, quando ouviu um estalo. Fechou os olhos, sentiu a perna fria e uma dor infindável. Quando levantou a saia, percebeu que havia um furo, causado por bala, que entrou por um lado da perna e saiu pelo outro.
O ano era 2004 e estava acontecendo no bairro uma briga de grupos criminosos rivais. Oito anos depois, a hoje recepcionista de 24 anos ainda não consegue sair de casa com tranquilidade. “Tenho pânico até de ficar na calçada”, comenta. “Nesse dia, seis pessoas ficaram baleadas, sem ter nada a ver com as gangues”, lamenta.
A história da mulher ajuda a desenhar uma estatística que vem se formando nos últimos anos: a do aumento do número de pacientes, atendidos no Instituto Dr. José Frota, feridos por armas de fogo.
O número de pessoas feridas a bala atendidas no IJF cresceu 70% de janeiro a julho de 2012 (1.682), quando comparado a igual período do ano passado (988).
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Em todo o ano passado, a quantidade de pessoas baleadas foi de 1.658. Neste ano, até o dia 15 de agosto, foram 1.825 pessoas feridas com tiro e socorridas no maior hospital de urgência e emergência do Ceará. Ou seja, o ano ainda não chegou ao fim e os atendimentos já ultrapassaram a marca de 2011 em 167 feridos.
Isso significa que, em 2012, uma média de oito pacientes procuraram, todos os dias, o IJF na busca por atendimento na emergência por ferimentos a bala. Ano passado, o número foi quase a metade: 4,5 pacientes, diariamente. E o custo para esse tipo de atendimento é elevado. Casemiro Dutra, diretor executivo do hospital, conta que os valores alcançam R$ 8,5 mil reais por paciente.
Até agora, o IJF gastou impressionantes R$ 15,5 milhões no atendimento a pacientes com ferimentos a bala em 2012. Valor que poderia ser investido para a melhoria das condições dos hospitais, por exemplo, já que o tiro poderia ser evitado. “Tivemos um aumento de maneira bem expressiva nos últimos anos. Mas nos sete ou oito meses que se passaram, foi absurda a quantidade de feridos”, analisa o diretor executivo.
Criminalidade
O caso da recepcionista é exceção. O cotidiano confrontado no IJF mostrou a Dutra que são poucas pessoas com ferimentos provocados por bala perdida, ou seja, que não estejam envolvidas com a criminalidade. Também são mínimos os casos, de acordo com o médico, de pequenos desentendimentos, brigas de vizinhos ou de bar, por exemplo, cuja consequência seja o tiro.
A absoluta maioria é por envolvimento com o crime. Dutra delineia que o perfil do paciente que chega ao IJF para esse tipo de atendimento é de homens, entre 15 e 29 anos, boa parte vinda das periferias de Fortaleza. “Cerca de 95% dão desse perfil”, alinha. Diferente de outros atendimentos, aponta, a maioria dos pacientes por ferimentos a bala é de residentes em Fortaleza e Região Metropolitana.
A realidade não foi a vivida pela recepcionista do início da matéria.
O quê
ENTENDA A NOTÍCIA
O chamado “microtráfico” é o principal responsável pela quantidade de mortos e feridos em brigas de gangue em Fortaleza, segundo especialistas ouvidos pelo O POVO. São gangues de pequeno e médio porte.
Fonte: O POVO
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