O envolvimento com quadrilhas organizadas está no topo do ranking de
crimes atribuídos aos policiais expulsos da PM no Ceará entre janeiro
de 2011 e abril de 2012 (até o último dia 3). Das 88 expulsões no
período, 11 foram por esse motivo, o que representa 12,5% do total. Em
seguida, vêm homicídio (9%) e agressão física (7,9%). O levantamento
foi feito pelo O POVO a partir de documentos oficiais obtidos com exclusividade.
Dos
11 PMs acusados de ligação com o crime organizado, seis foram por
envolvimento com grupos de extermínio e cinco com quadrilhas de
assaltantes.
Os documentos a que a reportagem teve acesso trazem um
resumo com o resultado das investigações instauradas pela PM.
Um
sargento expulso em 2011 foi acusado de “integrar uma quadrilha de
assaltos a diversas agências bancárias e dos Correios no interior do
Ceará”. O documento cita que o policial deu apoio a três criminosos
durante um cerco policial no município de Milhã, no Sertão Central.
Segundo a investigação, o militar disponibilizou um carro e motocicletas
para a fuga dos assaltantes.
O policial também teria cedido
sua residência para reuniões da quadrilha. “O conjunto probatório
trazido aos autos demonstra claramente que o sargento possui fortes
laços com o crime organizado, contribuindo para o desprestígio da
corporação frente à sociedade”, conclui o documento.
Outro
caso é de um PM que teria entregue dois fuzis, munição e colete a um
homem preso na cidade de Boa Viagem, também no Sertão Central. “O
soldado possui envolvimento com pessoas acusadas de roubos a agências
bancárias, casas lotéricas e ônibus no Interior”, afirma o documento. O
militar também é acusado de facilitar a passagem de criminosos em
barreiras policiais. Na mochila dele, foi encontrado um instrumento
“bastante utilizado no arrombamento de cofres de caixas eletrônicos”.
Os
arquivos da PM também mostram que seis policiais foram expulsos por
envolvimento com o grupo de extermínio liderado pelo iraniano Farhad
Marvizi, preso pela Polícia Federal em agosto de 2010. O estrangeiro foi
acusado de mandar matar pelo menos 11 pessoas em Fortaleza. Alguns
policiais teriam participado das execuções e outros faziam a segurança
particular do iraniano.
Para o sociólogo Marcos Silva,
pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade
Federal do Ceará (UFC), o crime organizado vê no policial corrupto uma
“figura chave” para a realização de atividades criminosas. “O PM tem a
experiencia de rua, entende de violência urbana. Quando passa para o
mundo do crime, é muito útil (para as quadrilhas)”, comenta.
Outros casos
A
lista de crimes atribuída aos policiais expulsos também inclui casos
de homicídio, abuso sexual, tráfico de drogas, venda de armas,
extorsão, roubo e furto, entre outros. Também há casos de PMs expulsos
por dormir na viatura, praticar racha com as Hilux e falsificar
atestado médico (ver quadro).
Os PMs expulsos foram
submetidos a procedimentos administrativos. Os prazos para conclusão do
processo variam de 30 a 60 dias, podendo ser prorrogados. Geralmente, o
processo demora a ser concluído. Na tarde de ontem, O POVO tentou
contato com o comandante da PM, coronel Werisleik Matias. Ele não
atendeu as ligações. O relações públicas da PM informou que o coronel
estava de viagem para São Paulo e não poderia falar com O POVO.
O quê
ENTENDA A NOTÍCIA
Somente
este ano (até o dia 3 de abril), 27 policiais foram expulsos da PM.
Comparando com o mesmo período do ano passado, o número de expulsões
aumentou 50%. Ao todo, em 2011, foram 61 demissões.
Saiba mais
Somente este ano (até
o último dia 22), foram registradas 30 ações contra bancos no Ceará,
sendo oito na Região Metropolitana de Fortaleza e 22 no Interior.
Os PMs expulsos podem recorrer da decisão. Uma das possibilidades é acionar a Justiça em busca de liminar.
CAMOCIM POLÍCIA 24hs
Nenhum comentário:
Postar um comentário