20 de abril de 2011

TRAFICANTE "NEM" E SUA MULHER "XERIFA" ESCAPAM DO CERCO POLICIAL.

Xerifa pousando em foto com Cláudia Leite
Rio - A Polícia Civil desencadeou ontem de manhã megaoperação com cerca de 200 agentes para prender líderes comunitários e parentes do chefe do tráfico na Rocinha, Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem. Todos são suspeitos de integrar esquema milionário de lavagem de dinheiro oriundo das bocas de fumo. As investigações da Polinter descobriram movimentações de mais de R$ 2 milhões nas contas bancárias.
Com a suspeita de vazamento da ação, em que 11 pessoas foram presas, Nem e sua mulher, Danubia de Souza Rangel, escaparam. Mas a vaidosa ‘Xerifa’ (como se intitula) viverá como foragida. Em shows na favela, ela tinha acesso livre aos camarins de artistas, com quem gostava de tirar fotos para exibir no Orkut, como uma com a baiana Claudia Leitte, em março de 2009. A cantora não sabia com quem havia posado.
Além do casal, a Justiça decretou a prisão da sogra de Nem, do presidente da Associação de Moradores, Vanderlan Barros de Oliveira, o Feijão, e de seu irmão Telmo Oliveira Barros. O esquema que envolve duas empresas — uma fábrica de gelo e um lava-jato — havia sido descoberto pela Polinter em 2009. A investigação resultou em processo com 21 réus, entre eles Feijão, dono dos dois estabelecimentos.
De sete meses para cá, o foco do trabalho da equipe dos delegados Rafael Willis e Felipe Curi se voltou para os ‘laranjas’ de Nem. E, com o apoio do Núcleo de Lavagem de Dinheiro da Polícia Civil, o rastreamento revelou que a ‘lavanderia’ continuava a todo vapor.

A vida de luxo ficou constatada na mansão do traficante, na localidade Cachopa. Lá, policiais apreenderam TVs de LCD, computadores e roupas de grife, que Danubia gostava de comprar quase toda semana em seus passeios pelos shoppings mais badalados do Rio. Também foram recolhidas fotos em que a ‘Xerifa’ se exibia com joias douradas.
Num estacionamento do lava-jato, na Estrada da Gávea, os agentes apreenderam um caminhão de gelo da empresa de Feijão.

“Na investigação, procuramos pessoas que atuavam para ajudar o tráfico a se manter na comunidade. Descobrimos que havia empresa em nome dessas pessoas, que não tinham patrimônio compatível com aquela atividade. São empresas legalizadas, que funcionam com o dinheiro do tráfico na Rocinha e Zona Sul”, explicou o delegado Rafael Willis, diretor da Polinter, que, com a Delegacia de Combate às Drogas (Dcod), apreendeu 2,6 toneladas de maconha.

Policiais militares sob suspeita de vazamento de informação

A suspeita de vazamento da ação de ontem desencadeou outra investigação para tentar descobrir quem seria o traidor. Não seria a primeira vez que isso teria ocorrido. Desde que assumiu o controle da Rocinha, Nem, também conhecido como Mestre, só foi surpreendido uma vez, em março do ano passado, em uma ação que resultou em sete mortes. Agora, o alvo dos investigadores são três policiais do 23º BPM (Leblon) que, na noite de segunda-feira, teriam subido a favela e ido até a associação de moradores.

Moradores da comunidade e os próprios policiais que participaram admitiram que Nem soube da operação antes. “Fui trabalhar mais cedo porque ontem (segunda-feira) todo mundo já sabia que ia ter operação no morro”, conta uma moradora, que pouco depois das 6h já estava no trabalho, para tentar fugir de possíveis tiroteios na comunidade.
Durante a incursão, não houve um tiro sequer. Os serviços de inteligência da Secretaria de Segurança e o Disque-Denúncia receberam informes de que os bandidos estariam na mata que divide a Rocinha e o Vidigal. Mas os policiais não chegaram àquele ponto.
Oficialmente, a chefe de Polícia Civil, Martha Rocha, negou saber de vazamento. Já o subchefe Operacional, Fernando Veloso, admitiu: “Não basta o jornalista dizer que teve moradores fazendo denúncias de que houve vazamento. Ainda que tenha havido o vazamento, não foi eficaz o suficiente para neutralizar os efeitos da operação. O resultado está aí”.

Motos e eletrodomésticos são recuperados

Além das 2,6 toneladas de maconha apreendidas, que encheram um ônibus, a Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA) recuperou 42 motos roubadas.
Já a Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC) encontrou um caminhão roubado com 11 geladeiras, seis aparelhos de ar condicionado, quatro fogões, duas máquinas de lavar, dois microondas, um exaustor, um aparelho de fax e uma TV.
Das 11 pessoas presas, sete foram autuadas por venda de produtos piratas. Mais de 17 mil artigos falsificados foram encontrados. A polícia estourou ainda duas centrais clandestinas de TV a cabo e prendeu 30 pássaros silvestres.

Presidente de associação ajudou a negociar com invasores de hotel

Um dos alvos da operação de ontem, Vanderlan Barros de Oliveira, o Feijão, foi um dos responsáveis pela rendição de dez traficantes que invadiram o Hotel Intercontinental, em São Conrado, após uma troca de tiros com PMs, em agosto. Ele é presidente da Associação de Moradores do Bairro Barcelos, na Rocinha.

Na época, ele já havia sido denunciado pelo Ministério Público justamente por lavar dinheiro do tráfico através de suas empresas, ambas com sede na Rocinha: a V. Barros de Oliveira Comércio de Acessórios para Veículos Ltda. e a W.C. Comércio de Gelo Ltda.
No episódio do hotel, Feijão foi flagrado por um cinegrafista amador carregando a moto amarela usada por criminosos e levando-a de volta à Rocinha. Ele chegou a prestar depoimento na 15ª DP (Gávea) para se explicar.
No Rio Comprido, dois homens foram presos por dar suporte à quadrilha. Tayrone Manhense Moreira Alexandrino e o taxista Fábio da Silva Encarnação são acusados de transportar armas e drogas. Outro segurança do tráfico capturado foi Anderson Vieira de Souza, conhecido como Miséria.

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