Única mulher a concluir o curso do Comando
Tático Rural fala sobre dificuldades e superação
A vida da cabo da Polícia Militar (PM)
Laurice Sinara Moura Maia é quebrar tabus. Tornou-se a primeira e, até agora,
única mulher a concluir o superexigente curso do Comando Tático Rural (Cotar),
uma das unidades de elite da PM cearense. No Batalhão de Choque, ainda tem os
cursos do Controle de Distúrbios Civis (CDC) e do Comando Tático Motorizado
-(Cotam) - onde, atualmente, é lotada. Também é a única mulher no Estado a ter
o curso de salvamento aquático, do Corpo de Bombeiros. Nesta entrevista, a cabo
Maia discorre sobre essas quebras de estigmas e as dificuldades da formação.
O POVO: Por que a senhora decidiu fazer o
curso do Cotar?
Cabo Maia: Porque ninguém do quartel estava
me deixando fazer. Ninguém acreditava em mim. Para começar, abriram o curso,
mas não abriram vagas femininas. Lutei para ter uma vaga feminina, mas não
consegui e tive que fazer um TAF (Teste de Aptidão Física) masculino ? que é
muito difícil. Mas, graças a Deus, eu treinei e consegui passar. Ainda passei
com média 10. Além disso, me incentivou bastante o fato de que ninguém no
quartel acreditou que eu fosse capaz de terminar. Fizeram apostas que eu não ia
passar do primeiro dia. A não aceitação, a discriminação me dava muita força.
OP: Quais foram as principais dificuldades do
curso?
Cabo Maia: Os cursos do Batalhão de Choque
são muito difíceis. Existem mais e menos difíceis, mas todos são de um nível
muito bom. O curso do Cotar está enquadrado no mais difícil. Você tem restrição
de água, de comida. Você passa por situações degradantes! Nem todo mundo tem um
bom psicológico, uma boa estrutura física para suportar. Em alguns exercícios,
a gente teve que, realmente, deixar a vaidade de lado. Eu tive que raspar a
cabeça, passei cinco dias sem tomar banho, cinco dias sem escovar os dentes.
Foram cinco dias na parte de sobrevivência em que quase não tinha comida. A
gente fazia umas armadilhas para poder comer. Comia cobra, tatu? Isso em pleno
Sertão. Eu fiquei menstruada no Interior e não tinha absorvente. Correr 20
quilômetros descansado é uma coisa. Agora, correr isso após uma noite toda sem
comer, sem beber, passando por vários desgastes psicológicos e físicos? Colegas
que tiveram convulsões, outros estavam delirando? Muitas pessoas não querem se
submeter a isso. Mas nem por isso eu deixei aquilo me abalar ou me senti
diferente dos outros, homens. Fiquei de boa mesmo, continuei fazendo o que era
mandado. Eu gosto disso, de superar desafios. Eu gostaria que mais mulheres
fizessem o curso. Nós já estamos no sexto curso do Cotar e nunca uma mulher
sequer se inscreveu.
OP: Uma das principais atribuições do Cotar,
quando ele foi criado, eram os ataques a banco, no chamado "novo
cangaço". Quais eram os principais desafios dessa tarefa?
Cabo Maia: O Interior, por incrível que
pareça, é mais perigoso. Há muitos homicídios na Capital, mas os bandidos no
Interior são melhores armados. Hoje, no Cotam, crimes de facções rivais, o dia
a dia do tráfico, continuam sendo os desafios maiores. Mas eu gosto dessa
adrenalina, dessas emoções? É isso o que eu sei fazer, ser policial. Eu não me
imagino hoje fazendo outra coisa na vida.
por Lucas Barbosa - Repórter - Para O Povo
5 comentários:
Mulher guerreira! Merece muita honra e o respeito de todos! Parabéns Cabo Maia, que Deus te abençoe.
Muitas policiais femininas gostariam de poder fazer o curso do RAIO e não fazem pelo mesmo motivo, não há vagas para mulheres! Essas questões deveriam ser revistas, pois já passou o tempo em que mulher era o sexo frágil. As mulheres são fortes e merecem a chance de mostrar isso também nos Batalhões de Polícia.
Meus parabéns, eu não quero nem imaginar o que você passou para conseguir esse mérito!
Parabéns guerreira Deus lhe abençoe👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏
É desse tipo de caráter que a Polícia e a população precisa. Seja feliz.
👏👏👏👏👏👏👏parabéns guerreira
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