O retorno de tantos
policiais licenciados levanta diversas questões; na PM, não há psiquiatra à
disposição
O número de licenças médicas psiquiátricas
concedidas a policiais militares reduziu drasticamente no Ceará. De 5.258
licenças publicadas nos Boletins do Comando Geral da Polícia Militar do Ceará
(PMCE), no ano de 2014, foram somente cinco registradas até o dia 28 de março
deste ano de 2016.
O retorno dos policiais de licença às
atividades levanta vários questionamentos. E aponta algumas falhas no sistema.
Haveria agentes da PM nas ruas sob efeito de remédios? Ou, pior, com quadro
clinico de debilidade mental e portando arma de fogo sob a tutela do Estado?
Outra questão é que, para gozar das promoções
através da 'Lei Camilo', sancionada ano passado, o policial não poderia estar
de licença médica. Esse poderia ser outro fator para a miraculosa 'cura' em
massa verificada.
Fato é que, no Ceará, não há psiquiatra
destinado a atender a tropa da PM. Todos os atendimentos neste sentido são
feitos ou por médicos dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) ou por
profissionais particulares, por planos de saúde privada.
Os dados de licenças médicas psiquiátricas
foram obtidos pela reportagem junto à Associação dos Praças da Polícia Militar
e do Corpo de Bombeiros Militares do Estado do Ceará (Aspramece). Conforme
balanço da entidade, a média era de 5.407 licenças por ano, no período entre os
anos de 2010 a 2014. Em 2015, ano da sanção da Lei de promoções para os
militares, teve início a redução dos afastamentos médicos: somente 1.760
licenças foram publicadas no Boletim do Comando Geral.
O presidente da Associação, Pedro Queiroz,
revelou preocupação com a situação. "Os números (das publicações de
concessão de licenças médicas) são bastante alarmantes. A gente percebe que as
licenças caíram de forma vertiginosa. Saímos de sete mil para mil e poucas ano
passado. Esse ano, só foram publicadas cinco licenças, o que a gente sabe que
não é verdade", disse.
Para argumentar, o presidente da Aspramece
apontou a equipe de saúde mental da Polícia Militar como exemplo de desatenção
do Estado para com o tema abordado.
Há três psicólogas e três assistentes sociais
à disposição da tropa, que ultrapassa as 17 mil pessoas no Estado. Destas, uma
psicóloga e duas assistentes sociais ficam à disposição do Colégio Militar, uma
psicóloga e outra assistente atendem à Cavalaria da PM e apenas uma
profissional de Psicologia, em uma sala na sede da Secretaria da Segurança e
Defesa Social (SSPDS), tenta dar conta do resto da demanda.
"Temos 17 mil militares, fora as esposas
e filhos, que acabam sofrendo também com a patologia do pai ou mãe. O Estado
não pode apenas cobrar e não dar ao policial a segurança psicológica que ele
precisa para enfrentar essa violência desenfreada. Outro problema é termos
dentro da Corporação um monte de gente supostamente trabalhando sob efeito de
psicotrópicos de auto controle, de tarja preta", indicou Pedro Queiroz.
Apoio
O coordenador de saúde e assistência social
da PM, tenente-coronel Paulo Simões, relatou também preocupação com a situação.
Ele exaltou a atuação do Centro Biopsicossocial (CBS) da PM, no bairro Farias
Brito, que serve de apoio a quem o busca.
"Para nós é uma tristeza. Percebemos que
existem 'bombas humanas' na Polícia, surtando. Qualquer pessoa surta, mas a
partir do momento que um policial põe a farda, ele já vai se estressando, pela
violência que enfrenta, a falta de respeito às autoridades. E tem complicado
muito, trazido mais surtos para dentro da Corporação", disse.
O coronel detalhou que, antes de um policial
ser acompanhado pelo CBS, é preciso que o comandante do Batalhão tenha a
sensibilidade de perceber a necessidade daquele comandado.
"Recebemos relatórios mensais de cada
unidade, Capital e Interior, onde o comandante local nos conta sobre os colegas
que estão com problemas de saúde, em serviços leves trabalhando no quartel. Aí
ele diz se é problema clínico ou psicológico. É o primeiro momento em que vemos
o problema", explicou.
Simões admite a necessidade de ampliação da
equipe de saúde voltada para os PMs. "No CBS, atuam ainda quatro médicos,
sendo dois clínicos-gerais, uma endocrinologista e um cardiologista. Mas temos
uma carência muito grande. Não temos um psiquiatra e não podemos contratar mais
pessoal. Nosso sonho era que cada Batalhão tivesse uma assistente social e uma
psicóloga", comentou.
Acerca da diminuição de laudos publicados, o
coronel disse preferir crer na boa fé. "Mandamos os atestados para a
perícia medica, e eles avaliam o atestado. Se está dizendo que o policial ficou
bom, quem sou eu para dizer o contrário? A Polícia precisa passar por uma
reeducação mental. Toda a tropa era pra ter uma avaliação anual. Nós adoecemos
e choramos igual a todo mundo e temos de nos conscientizar que também
precisamos de ajuda", avaliou.
Centro Biopsicossocial da Polícia Militar do
Ceará - Rua Tereza Cristina, 1575 - bairro Farias
Brito - Fortaleza - (85) 3101.2236
Fonte: DN
3 comentários:
Só o q se viu foi PM q estava de licença, retornando para não perder as promoções.
O quadro da segurança pública tá cheio de gente doente, é stresse de mais , cumpade.
Ô área estressante essa dos caras, ainda tem gente q fala bobagem.
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