Cadeias totalmente deterioroadas |
Um grupo armado invade a cadeia pública,
põe o agente prisional de joelhos, adentra uma
cela e executa dois presos. A 180 km dali, um
barulho fora do comum alerta para a existência
de um buraco pronto para ser usado em uma
fuga. Dois dias depois, a 200Km daquele lugar,
não houve a mesma sorte, por assim dizer, e
os internos do presídio conseguiram escapar
através de um buraco na parede. Estes casos foram todos divulgados pelo jornal
na semana passada. Em comum, traduzem a
fragilidade a que está exposto o sistema
prisional cearense, em especial, no Interior do
Estado.
Somente a cadeia de Viçosa do Ceará, na
Serra da Ibiapaba, registrou duas ocorrências
em 24 horas. No último dia 27, às 2h da tarde,
presos de uma ala incendiaram, com gasolina,
colchões de uma cela, da outra ala do Presídio
Público do município. Ninguém foi ferido, mas
aproveitando o tumulto, seis presos
conseguiram escapar, pelo alambrado na
parte de trás do prédio; quatro deles foram
capturados horas depois.
Apesar da situação ter sido controlada, na
segunda-feira (27), às 19h, nova discussão fez com que um grupo voltasse a incendiar colchões,
por vingança, provocando novo incêndio, dessa vez com maiores proporções. Durante a briga,
mais 11 presos conseguiram arrombar duas celas e fugir pelo muro de trás do prédio, com ajuda
de uma 'tereza' (espécie de corda feita de lençóis).
A Cadeia Pública, que tem 47 anos de instalação, tinha 31 homens, divididos em 15 celas,
vigiadas por um agente penitenciário. No momento da segunda fuga, o único agente de plantão,
havia saído para jantar. Ele foi informado pelos vizinhos, por telefone, que um novo incêndio
havia sido provocado, e vários presos estavam fugindo.
"A situação do presídio é precária, nós ficamos sem segurança nenhuma. Com essa situação de
rivalidade, qualquer coisa pode acontecer", disse, preocupado, o agente penitenciário que esteve
presente no último conflito naquela unidade.
Cadeia de Viçosa do Ceará |
Problemas
O relato é embasado pelo depoimento de um outro agente, que atua na unidade prisional de Icó,
a 358Km de Fortaleza. Ele discorre sobre os problemas que enfrenta no dia a dia para tentar
executar seu trabalho em meio à defasagem de efetivo.
"Os problemas são públicos e notórios. Sujeira, trabalhamos expostos às fezes dos presos, não
tem saneamento. E falta efetivo. O Estado enfrenta uma crise na questão do Sistema
Penitenciário. Temos um sistema frágil, falido. Os presídios são sucateados. Acho que a atual
gestão da Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus) está fazendo o máximo que pode para tentar
organizar o Sistema Penitenciário, mas é muito difícil. Há muitas limitações. Faltam recursos para
o Sistema", afirmou o agente.
Conforme o profissional que atua em Icó, naquela unidade prisional, os próprios agentes fizeram
rateio para comprar equipamentos básicos de trabalho.
"Para evitar a entrada de material ilícito como armas, nós mesmos compramos uma raquete
detectora de metal. Como estamos proibidos de fazer revista íntima, e a Sejus não nos enviou
bodyscanner ou Raio X, essa foi a maneira que encontramos para poder trabalhar", disse.
O presidente do Sindicato dos Agentes Prisionais do Estado do Ceará (Sindasp/CE), Valdemiro
Barbosa, também teceu críticas à atual situação enfrentada pela categoria no Sistema.
"São 139 cadeias públicas no Interior, em média com um agente por plantão, o que é totalmente
insuficiente, inadequado. Temos cadeias com 250 presos, inclusive de alta periculosidade. Essas
estruturas são inadequadas, pois são prédios construídos para outras finalidades. Temos
grandes dificuldades, que têm facilitado a entrada de ilícitos, que é a ausência de equipamentos
de segurança. O agente é um gerenciador de crise. Nossa categoria tem muita vontade de
trabalhar. Mas do jeito que está, vai estourar, e quem vai ficar no prejuízo é o povo cearense.
Quem manda nas cadeias públicas do Interior do Ceará, hoje, é o preso", enfatizou, citando que
foram 564 fugas ano passado, contra 268 até junho deste ano. (Colaboraram Marcelino Júnior e
Richard Lopes)
Levi de Freitas
Repórter
Fonte: DN
2 comentários:
estas cadeias do ceara é piada, só fica preso quem que.
Tem que melhorar reforça o número de agentes nos presídios preparados e bem equipados, a policia militar melhorou muito nesses últimos anos, o governo do estado tem que olhar para nosso sistema penitenciário.
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