Um dos problemas mais sérios do País é o número
de homicídios, que atinge principalmente jovens das regiões mais pobres nas
periferias. Em uma década, a violência migrou das grandes cidades para o
interior.
De acordo com o último Mapa da Violência, 56.337
pessoas foram vítimas de homicídio em 2012. Esse número corresponde a 29 mortes
a cada grupo de 100 mil habitantes e é o maior da série histórica do estudo,
divulgado a cada dois anos, tendo como base o Sistema de Informações de
Mortalidade do Ministério da Saúde. Em 2002, o índice era de 28,5 por cem mil
habitantes. A maior queda foi registrada em 2007, quando chegou a 25,2.
Segundo o coordenador do estudo, Julio Jacobo
Waiselfisz, sociólogo da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais
(Flacso), o mapa mostra a tendência da violência de migrar dos grandes centros
para o interior. Se nesta década o número de homicídios permaneceu quase o
mesmo, ele diminuiu em cidades como Rio, São Paulo e Recife, mas migrou para
cidades médias e pequenas.
Edson Santos: precisamos de uma política para proteger o
cidadão e não para matar os bandidos.
“Por um lado, pode-se dizer, sim, que o crime
migrou porque foi mais bem combatido nas cidades, mas também foram as relações
que se deterioraram. Um grande número de mortes ocorre por desavenças que
acabam em brigas e até mesmo em mortes”, disse.
Profissionalização
A análise do mapa, segundo Jacobo, mostra que as
grandes cidades profissionalizaram suas áreas de segurança, enquanto no
interior a área ainda age como 20 anos atrás, como se não houvesse crimes para
investigar. “O que você tem nas pequenas cidades é um contingente policial
mínimo, despreparado para lidar com desavenças e que não tem condições de
combater qualquer tipo de crime”, disse.
Para tentar resolver essa questão, o governo
federal criou o programa Brasil Mais Seguro, que ajuda os estados na formação
de policiais e aquisição de equipamentos. “Para se ter uma ideia, não tínhamos
peritos treinados nos equipamentos mais modernos, e graças ao programa montamos
laboratórios e a Polícia Federal treinou nossos investigadores”, relatou
Diógenes Tenório, secretário de Defesa Social de Alagoas, primeiro estado a
receber o programa.
João Campos considera que o Brasil vive uma situação quase de guerra, com grande número de mortes de policiais e causadas por eles. |
Jovens negros
Os jovens negros foram as maiores vítimas dessa
violência. Pessoas com idade entre 15 e 29 anos tiveram as taxas de homicídio
aumentadas de 19,6 em 1980 para 57,6 em 2012, a cada 100 mil jovens.
Negros também morreram muito mais que brancos.
Morreram 146,5% mais negros do que brancos no Brasil, em 2012, vítimas de
violência. Entre 2002 e 2012, o número de homicídios de jovens brancos caiu
32,3% e o dos jovens negros aumentou 32,4%.
“O problema é que a política de segurança
pública escolheu um inimigo, e claramente ele é o jovem negro, que já é vítima
dos lugares mais pobres e violentos, e eles não têm a mesma proteção dos jovens
brancos de classe média”, avalia Ruth Vasconcelos, socióloga da Universidade
Federal de Alagoas e especialista em violência.
“Claramente, o que precisamos é de uma política
de segurança cidadã, e nossos policiais estão sendo treinados cada vez mais nessa
perspectiva, para proteger o cidadão e não para matar os bandidos”, relatou o
deputado Edson Santos (PT-RJ), que foi ministro da Igualdade Racial e integra a
Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara dos
Deputados.
Mortes de policiais
A discussão sobre o papel da polícia também é
importante. Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, elaborado por um
fórum de especialistas ligados à área governamental de segurança, mostram que
490 policiais tiveram mortes violentas em 2013, destes 75,3% foram mortos
quando não estavam em serviço. Por outro lado, policiais causaram 11.197
mortes. Em comparação com outros países, os dois dados são alarmantes.
“É uma situação muito grave, porque representa
uma situação quase de guerra. Até por isso os policiais precisam ser bem
treinados e remunerados, para se protegerem e às suas famílias”, disse o
deputado João Campos (PSDB-GO), que é delegado e integrante da Comissão de
Segurança Pública da Câmara.
Reportagem – Marcello Larcher
Edição – Natalia Doederlein
fonte:
'Agência Câmara Notícias'
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