Os crimes contra vítimas do sexo feminino
ocorreram nos seis primeiros meses deste ano em todo o Estado.
Somente até maio deste ano, 1.992 pessoas foram
vítimas de crimes como homicídios, latrocínios e lesão corporal seguida de
morte, no Ceará. Dentre elas, estão 144 mulheres, de acordo com dados da
Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). Os crimes que,
geralmente, acometem mulheres estão ligados a questões passionais ou ao tráfico
de drogas, segundo a Polícia.
A maioria dos casos ainda são motivados por
violentas emoções, mas cresce o número de assassinatos em que a vida das
vítimas valeram três ou quatro pedras de crack.
Na última terça-feira, uma
médica chamada Elisabete Bernardes foi morta a tiros pelo ex-companheiro,
Onofre Ribeiro, que não se conformava com o fim do relacionamento. Após dar um
tiro no peito da professora de uma faculdade de medicina da Cariri, Ribeiro se
suicidou com um tiro na boca.
O caso ocorrido no bairro Salesianos, em
Juazeiro do Norte, chocou a sociedade. Muitas demonstrações de indiganção dos
alunos, colegas de trabalho e amigos de Elizabete foram presenciadas durante o
velório e sepultamento dela. Para a professora Jânia Perla Aquino, do
laboratório de Estudo da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará
(UFC), os crimes que envolvem mulheres são complexos e contraditórios,
principalmente, porque acontecem em todos os setores da sociedade.
"Muitas vezes, a sociedade não consegue
conceber que uma pessoa de nível intelectual elevado seja vítima ou cometa um
crime. As pessoas se chocam ao saber de casos como o desta médica. No entanto,
infelizmente, não é raro que o machismo e a busca pela submissão feminina
demonstre que continuamos sendo o elo mais frágil das ligações entre gêneros",
afirmou a estudiosa.
Para Jânia Aquino, assim como aconteceu em todos
os setores da sociedade, a ascensão feminina também se deu no mundo do crime e
por isto o tráfico tem sido outro forte motivador de assassinatos. "O
consumo de drogas aumentou muito entre as mulheres. Isto as deixa mais
suscetíveis a se envolverem também, com a negociação dos entorpecentes. Como
presidem empresas e chefiam grandes organizações, algumas mulheres conseguiram
chegar ao topo do mundo do tráfico. Mas até nisto, existe o machismo e elas são
mais vulneráveis. A dona-de casa, a empresária bem-sucedida, ou a 'mula' do
tráfico estão inseridas num contexto social de relações, em que alguns homens
querem dominar a qualquer custo".
Eliminada
O exemplo de Daniela de Paula Moreira, 33, pode
ilustrar a fala da professora. Ela foi assassinada, no último dia 14 de maio,
em frente a uma escola particular, situada na Rua Professor José Henrique, no
bairro Messejana. Segundo a Polícia, ela teria ido pegar a filha, após as
aulas, quando foi abordada por dois rapazes que ocupavam um ciclomotor.
Eles efetuaram vários disparos e fugiram, em
seguida. A 'cinquentinha' foi abandonada alguns metros depois de onde o fato
aconteceu e os atiradores seguiram a pé e nunca foram presos. Daniela foi atingida
por três tiros na cabeça e sua filha, de apenas cinco anos, foi lesionada na
mão. Na tentativa de proteger a mãe, a menina teria colocado as mãos na linha
de tiro para impedir que as balas chegassem até ela, segundo a equipe da
Perícia Forense do Ceará (Pefoce) que esteve no local.
Segundo as autoridades policiais que apuraram o
caso, não há solução, até agora. A motivação e os suspeitos não formam
identificados, embora já existam algumas linhas de investigação. O inquérito
sobre o crime foi aberto na delegacia da área, o 6ºDP (Messejana), que na época
era comandada pelo delegado Antunes Teixeira. Porém, Teixeira se aposentou e a
delegada Ana Cristina, que assumiu a delegacia, informou a reportagem, que o
procedimento foi enviado para a Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa
(DHPP), já que permanece com a autoria desconhecida.
Partilha
A reportagem entrou em contato com amigos e
conhecidos da vítima, que corroboram uma das versões que a DHPP apura. Eles
disseram que a família de Daniela prefere não se manifestar sobre o assunto,
porque ela teria sido eliminada por conta de uma partilha de bens.
"Desde o dia em que a Daniela morreu
achamos aquilo muito estranho os boatos que se espalharam. Durante o velório,
percebemos que existia uma dor muito grande e um lamento por parte da família,
mas não havia indignação. De certa forma, era como se eles soubessem que alguém
poderia fazer aquilo com ela", declarou um deles.
O rapaz disse que os rumores no bairro deram
conta de muitas versões para os fatos, mas aos poucos as coisas foram ficando
claras. "São muitos os elementos que nos levam a crer que aquilo não foi
um problema de Segurança Pública, foi uma briga que se complicou demais".
O diretor-adjunto da DHPP, Ricardo Romagnoli
disse que é possível que a desconfiança da comunidade se confirme, mas até
agora nada de conclusivo pode ser afirmado. "O inquérito está na DHPP e
estamos dando prosseguimento as investigações. Conhecemos esta hipótese e é
possível sim, que ela tenha sido morta por conta de uma divisão de bens",
disse.
A filha de Daniela Moreira colocou uma peça de
platina no dedo mínimo lesionado pela bala. Ela e a irmã, de cinco meses, moram
atualmente, com a avó materna, a quem já chamam de mãe. Ela mudou de colégio.
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