Um total de 1.430 adolescentes infratores foram
sentenciados a cumprir medidas socioeducativas em Meio Aberto, no ano de 2013.
Destes, 922 cometeram atos infracionais como roubo, furto, porte ilegal de
arma, lesão corporal, tráfico de drogas e foram admitidos na medida de
Liberdade Assistida; os outros 508 foram encaminhados à Prestação de Serviços a
Comunidade (PSC). Dos 1.430 sentenciados, 1.051 descumpriram o estipulado pelo
juiz. Dados do Poder Judiciário dão conta que a reincidência dos menores, que em
tese estão respondendo por um delito anterior, é de 91,43%.
Foram registradas ainda, 5.253 internações
provisórias, que duram 45 dias, e são aplicadas apenas em casos de cometimento
de delitos graves e gravíssimos. O que quer dizer, que o número de adolescentes
envolvidos com homicídios, sequestros, latrocínios e que reincidem na prática
de delitos é alto.
Para o juiz titular da 5ª Vara de Execuções da
Infância e Juventude de Fortaleza, Manuel Clístenes de Façanha e Gonçalves, os
índices são absurdos. Segundo ele, em muitos casos, as internações provisórias
decorrem das falhas na aplicação das medidas de Meio Aberto. "Eles se
dirigem uma vez por mês a um Creas, instalado em cada uma das Regionais e
assinam que estiveram presentes. Isto deveria ser totalmente diferente. Era
para haver uma acompanhamento psicossocial para toda a família e haver uma
série de atividades de cultura, lazer, arte".
O juiz disse que a situação é caótica e que as
medidas não têm surtido efeito algum para os adolescentes, que transgridem às
leis. "Este levantamento mostra que praticamente 100% dos garotos
descumprem as medidas de Meio Aberto. Isto é uma piada. É uma prova de que a
Liberdade Assistida não funciona em Fortaleza. O resultado é absolutamente
nulo".
O número de procedimentos que chegam à Justiça
ligados à atos cometidos por adolescentes é cada vez maior. Em 2012, foram
abertos 2.750 processos contra menores, somente na 5ª Vara; em 2013, foram
4.486; e neste ano, já são 1.482. Os envolvidos nos autos, segundo funcionários
do Juizado, são praticamente todos viciados em drogas.
"A situação destes meninos é triste. Muitas
vezes o caso deles é para tratamento e não para internação. Como não dispomos
de clínicas que possam tratá-los, os enviamos para os Centros Educacionais, por
terem praticado delitos voltados unicamente para alimentar o vício", disse
Clístenes.
Roubo de veículo
Dados da 5ª Vara dão conta que os delitos mais
cometidos no ano de 2013 foram o roubo, o tráfico e o porte ilegal de arma.
Neste ano, o magistrado deste Juizado, diz que percebeu um aumento acentuado no
número de roubos e receptações de veículos. "Estamos recebendo uma média
de três a quatro acusados de roubar ou receptar veículos por dia. As motos são
mais recorrentes. Os infratores estão sofisticando suas atividades. Apreendemos
com eles equipamentos que servem pra bloquear rastreadores".
Clístenes Gonçalves informou que quem comete
este tipo de infração é internado, por 45 dias. "Este é um ato grave, que
denota grande perigo. A maioria dos latrocínios, por exemplo, acontecem durante
tentativas de roubos de carros".
Polícia
O delegado-geral da Polícia Civil, Andrade
Júnior, disse que a maioria esmagadora dos procedimentos realizados pela
Instituição envolve adolescentes, seja como autores, seja como comparsas de
adultos. Segundo o delegado, no ano de 2012, 5.953 procedimentos de auto de
apreensão em flagrante de adolescentes foram lavrados no Estado Ceará; em 2013
foram 8.397; e de janeiro a abril deste ano, já são 2.933.
"Nada fala melhor que estes números, que
mostram que cada vez mais menores estão no mundo do crime. É necessário que se
faça um trabalho com as famílias e nas escolas das pessoas que vivem em
situações, que as torna vulneráveis a serem cooptadas pelos criminosos,
enquanto elas ainda são crianças".
Sobre o alto número de roubos de veículos,
Andrade Júnior disse que a delegacia especializada nesses casos vem mapeando as
áreas de maior incidência de ocorrências e repassando para a PM. "Há uma
explicação fácil para que mais motos sejam roubadas. Elas são mais ágeis no
varejo do tráfico; nos crimes contra o patrimônio, como roubos; e também nas
execuções. Em todos estes delitos detectamos grande envolvimento de
menores".
FIQUE POR DENTRO
O que são Medidas de Meio Aberto?
As Medidas de Meio Aberto estão previstas no
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e devem ser determinadas por um juiz.
O magistrado deverá levar em conta em sua sentença, a capacidade do adolescente
em conflito com a lei de cumprí-la, as circunstâncias e a gravidade da infração
que ele cometeu.
Estas medidas são duas, a Prestação de Serviço à
Comunidade (PSC) e a Liberdade Assistida (LA). A PSC está prevista no Artigo
117 do ECA, e consiste "na realização de atividades gratuitas de interesse
geral, por período não excedente a seis meses, junto a entidades assistenciais,
equipamentos de educação, saúde entre outros, por parte do adolescente".
Os menores que podem ser beneficiados por esta medida são os que cometeram
delitos considerados leves.
A Liberdade Assistida está prevista no Artigo
118 do ECA, que estipula que ela deve ser aplicada se "afigurar a medida
mais adequada para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o
adolescente". A L.A. Deve ser fixada pelo prazo mínimo de seis meses, pode
a qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída e não pode ser
aplicada em casos de cometimento de delitos graves ou de práticas reiteradas do
infrator.
O acompanhamento destas, é feito pelos Creas de
cada Município. Os órgãos devem oferecer acompanhamento psicossocial e
educacional para os adolescentes que estiverem inseridos na condição de
infrator.
Dependência química torna jovens propensos a
delitos
O problema das drogas que se alastra entre os
jovens e já se configura como epidemia, devia ser tratado como um problema de
saúde pública, conforme a professora-doutora, Jânia Perla Aquino, do
Laboratório de Estudo da Violência, da Universidade Federal do Ceará (LEV/UFC).
Para ela, o contingente de adolescentes dependentes químicos é tão alto, que
parte de uma geração foi perdida, para o que ela considera uma patologia.
A professora afirmou que as políticas de
atendimento aos adolescentes têm sido ausentes e as medidas aplicadas a eles
precisam ser revistas. "O Estado tem um equipamento para prendê-los e não
tem para tratar. É muito caro manter uma pessoa presa e mesmo assim, não se
leva em conta que este dinheiro pode ser gasto em políticas de tratamento e
prevenção".
A pesquisadora considera que o vício das drogas,
que desencadeia outros crimes, é um problema que vem sendo sentido pela
sociedade em geral. "A população sente isso de forma dramática. Parece
haver uma relação entre o uso das drogas e os assaltos e latrocínios, por
exemplo. Se a pessoas está drogada, não há possibilidade de negociação com a
vítima, não há cuidado, não há preocupação com o futuro. Ela simplesmente age.
As pessoas têm medo desta figura, que não faz mal só a si mesmo, mas aos
outros".
Desfecho
Jânia Perla disse que o desfecho para estes
viciados são trágicos, na maioria das vezes. "Por estarem inseridos no
mundo do crime, eles também acabam sendo muito vulneráveis a serem mortos.
Existe um processo de desumanização dos jovens que estão na condição de
dependentes pela sociedade, que legitima a morte deles. Pouquíssimos destes
casos são investigados e elucidados pela Polícia. As execuções não são tidas
como perdas, mas como alívio". A professora disse que o tratamento dos
dependentes e as políticas de prevenção para que adolescentes se afastem da
criminalidade, estão entre as demandas sociais mais urgentes do Estado.
"Estes jovens pobres, negros, da periferia, dependentes químicos são os
que mais morrem e mais matam".
Creas amplia equipe de atendimento psicossocial
Diante da denúncia de que as equipes de
atendimento psicossocial dos seis Centro de Referência Especializado de
Assistência Social (Creas) de Fortaleza, não estariam oferecendo o serviço
adequado aos adolescentes que cumprem medidas em Meio Aberto, feita pelo
representante do Poder Judiciário, a Secretaria de Trabalho, Desenvolvimento
Social e Combate à Fome (Setra), responsável pelos Creas, informou que
"atualmente acompanha 1.139 adolescentes".
A instituição informou ainda, que "as
equipes profissionais estão completas, atendendo as demandas e fazendo os
acompanhamentos necessários". A assessoria de comunicação disse ainda que
"a Prefeitura de Fortaleza, realizou uma seleção pública para a área da
Assistência Social. No total, foram ofertadas 242 vagas para as especialidades
de nível superior - Serviço Social, Direito, Psicologia, Pedagogia, Terapia
Ocupacional - e 111 vagas para a especialidade de nível médio - Educador
Social. Os profissionais selecionados já estão atuando, desde o início deste
mês, junto às equipes".
Fugas de internos são recorrentes
A situação de reincidência e descumprimento das
medidas de Meio Aberto acabam sendo um fator que influencia na superlotação dos
Centros Educacionais. O inchaço da população nas unidades vem sendo percebido e
é um desafio para as autoridades que cuidam dos Centros.
Neste ano, um movimento considerado atípico
pelos coordenadores das unidades começou a ocorrer: as tentativas de fuga.
Somente neste mês, dois movimentos deste tipo, de grandes proporções ocorreram.
Um aconteceu no Centro Educacional Dom Bosco, no
último dia sete. Ao todo, 12 adolescentes em conflito com a lei conseguiram escapar,
depois de danificar grande parte da estrutura do prédio e provocar um incêndio.
A maior das fugas aconteceu um dia depois, no
último dia oito, no Patativa do Assaré. Na ocasião, 64 infratores conseguiram
escapar. Alguns deles foram recapturados e outros voltaram voluntariamente, mas
pelo menos, 40 ainda estão sendo procurados pela Polícia.
Vistorias
Na última semana, uma comissão formada por
integrantes do Poder Judiciário, do Ministério Público Estadual (MPE) e da
Defensoria Pública realizarão a primeira vistoria em conjunto, nos Centros
Educacionais. A priori, o Patativa do Assaré, o Dom Bosco e o Dom Aluísio
Lorscheider (Cecal) serão atendidos.
Quesitos como superlotação, acomodação dos
internos e qualidade dos serviços prestados a eles serão analisados. Relatos de
menores, dão conta que após se rebelarem, tiveram que beber água do chuveiro,
em uma das unidades. Os Centros de internação têm capacidade para 60 pessoas e
chegam a abrigar o triplo disto. Todos estão lotados.
Márcia Feitosa
Repórter
Fonte: DN
Um comentário:
Colquem esses malas em uma camara de gáspelo menos uns 30 minutos se escaparem solta eles, se não bye, bye pra eles.kkkkkkkk
Postar um comentário