2 de setembro de 2012

O POLICIAL QUE ROUBA DINHEIRO ROUBADO.

Uma parte dos meus colegas policiais, em todo o Brasil, costumam fazer uma distinção clara entre “polícia” e “bandido”, colocando ambos em extremos inconciliáveis, quase idealizando um céu, onde estão todos os que vestem farda, e um inferno, onde está situado certo setor da sociedade – com cor, classe econômica e até faixa etária. Para estes meus amigos, a grande corrupção, praticada por engravatados em ambientes de luxo, sequer é considerada para definir o que vem a ser um “bandido” de fato.

Também não vêem como muito significativo desvios praticados por colegas fardados, afinal, não é um mal o que é praticado por “nós”, criminosos e vagabundos são “eles”. Miopia, seletividade e ingenuidade(?) que aprofunda o abismo entre o que as polícias precisam ser e o que elas são verdadeiramente.

Esta reflexão é feita no momento em que cenas polêmicas de um aparente desvio de conduta cometido por policiais militares do Rio de Janeiro estão tomando os holofotes da mídia. Os PM’s são acusados de roubar uma mochila que foi roubada em uma lanchonete assaltada, onde ocorreu troca de tiros e os suspeitos (não policiais) acabaram mortos. 


Caso seja comprovado que os policiais militares ficaram com o dinheiro do roubo, teremos mais um escândalo invalidando a aritmética “polícia versus bandido”, que só tem ajudado para tornar ainda mais confuso o panorama que insistimos em tomar como simplório.

Finalizo deixando uma pergunta para os demais leitores policiais, e para o brasileiro médio, policial ou não: caso encontre em um local deserto uma mala de dinheiro, tendo conhecimento de sua origem roubada, sem que ninguém o veja, você devolveria ao proprietário? A resposta a esta pergunta é o diagnóstico de uma doença, que talvez não acometa apenas as polícias, embora mais grave quando os sintomas aparecem nelas.

Fonte: Abordagem Policial.

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