23 de março de 2011

PRESOS PAGAM R$ 70 MIL POR FUGA.


Resgates cinematográficos, fugas desmoralizantes. Como bandidos perigosos, a exemplo de Fabinho da Pavuna (Francisco Fabiano da Silva Aquino) e Alex Gardenal (Alex Sousa Ribeiro), recém-capturados, conseguem romper tão facilmente a segurança nos presídios cearenses? O POVO teve acesso, com exclusividade, a informações que curiosamente foram pouco aproveitadas por órgãos das secretarias da Segurança Pública e Defesa da Cidadania (SSPDS) e Justiça (Sejus) do Ceará. Dados que, sistematizados, poderiam servir pelo menos como procedimento de prevenção de tramas traçadas entre os muros do sistema carcerário.
O ano é 2006. No Instituto Penal Paulo Sarasate (IPPS), o soldado da Polícia Militar V.F. conversa ao telefone com o sequestrador e assaltante de bancos Fabinho da Pavuna. O presidiário cobra do militar o reembolso de R$ 70 mil. O dinheiro, uma boa quantia movimentada por quem está dentro de um presídio, havia sido repassada ao PM para viabilizar um plano de fuga de Pavuna que não deu certo à época.

O soldado, então lotado na 2ª Companhia de Guarda do Presídio, demonstrava, conforme informações apuradas, ser acostumado a fazer pequenos e grandes negócios com presos. Como conseguir celulares ou armas. Com tanta confiança em estar impune, não imaginava que as ligações telefônicas de Fabinho da Pavuna estavam sendo monitoradas por policiais que trabalhavam na Operação Paraíba da SSPDS. A investigação, na época, vinha sendo acompanhada pela 1ª Vara do Crime.

Sem temores, apesar de ter como credor Fabinho da Pavuna, o policial militar se justifica revelando que o dinheiro foi gasto pelo traficante de drogas, e seu “parceiro”, André Luís Soares de Oliveira, conhecido por Dragão. Bandido que, segundo o processo 2006.01.18468-8, teria fugido com outros três presidiários pela porta da frente do IPPOO I (Instituto Presídio Professor Olavo Oliveira, no Itaperi), em 2006. Graças ao apoio do soldado V.F.

Ao fugir do IPPOO I, segundo explica o soldado V.F. a Pavuna, Dragão teria ido se esconder em Mato Grosso. E lá, de posse da maior parte dos R$ 70 mil, teria comprado drogas para negociar no Ceará. Mas, por um descuido, teria perdido tudo ao cair nas mãos de policiais matogrossenses. Estranhamente não foi preso. Sendo recapturado em Caridade por participação do assalto ao BB de Caridade.

Justificada a situação, Fabinho da Pavuna se mantém sereno ao telefone e aceita uma proposta do soldado V.F. que temia ser morto por Pavuna. “Não. A gente corre atrás de ganhar dinheiro e ter liberdade”, retruca o bandido. A dívida de R$ 70 mil então seria paga em armas e repassada à quadrilha do sequestrador. Acordo feito.

E a partir daí, para espanto de quem está escutando os celulares dos dois, o soldado começa a desfiar um arsenal à disposição do “cliente” que está trancado no IPPS. O soldado da PM oferece a Pavuna fuzis do tipo AK (de origem russa, com uso autorizado somente a militares) e de outros modelos, além de pistolas Ponto 40 (também só autorizadas para uso militar). Fala de alguns itens que custam entre R$ 6 mil e R$ 12 mil e ainda supervaloriza a mercadoria, pois ensina que a “PT 40 é o mesmo armamento utilizado por policiais do Raio”. Raio é o grupo de elite para ações rápidas da PM do Ceará.

Nas interceptações telefônicas autorizadas pela 1ª Vara do Crime, além de negociar fugas, fornecer armas pesadas para bandidos, o soldado V.F. também repassa, com aparente facilidade, fardamento da PM para seus “clientes” criminosos. A última movimentação desse processo teria sido em agosto de 2008.
 Fonte: O Povo

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