ASSALTO A BANCOS: AS CAUSAS POR TRÁS DE UMA ESPÉCIE DE NOVO CANGAÇO.

Pequeno efetivo policial, fuga mais fácil e segurança deficiente das próprias agências bancárias são apontados como fatores que incentivariam assaltos a bancos no Interior.

A reformulação da Polícia Militar do Ceará, anunciada ontem pelo Governo do Estado, vem em momento de crise da segurança no Interior. A 3ª Pesquisa Nacional de Ataques a Banco mostra crescimento de 420% no número de assaltos a instituições bancárias no primeiro semestre de 2012 em comparação ao mesmo período de 2011. O último ocorreu em Morada Nova, a 161,1 km de Fortaleza, quando seis homens armados, fizeram funcionários reféns e fugiram com o dinheiro.

Só este mês, Milhã, Juazeiro do Norte e Morada Nova foram atacadas por quadrilhas. Segundo levantamento do Sindicato dos Bancários do Ceará (SBC), das 85 ocorrências, este ano, contra a segurança bancária, contabilizadas também as saidinhas e tentativas, 44 foram relatadas em diferentes regiões do Estado.

“A Polícia não tem estrutura. Não tem efetivo. No dia, só tinham nove policiais”, afirma o presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Morada Nova, José Eurias Nobre. Segundo ele, após o assalto, inédito na cidade, o comércio teria perdido metade do movimento. Para o presidente do SBC, Carlos Eduardo Bezerra, haveria uma espécie de “novo cangaço”, formação do crime organizado se nutrindo com grupamentos interregionais e interfederativos que necessitariam de maiores esforços de inteligência para serem desbaratados.

Segundo Bezerra, faltaria também ação das agências. Ele destaca que alguns bancos desobedecem leis sobre a obrigatoriedade do uso de portas eletrônicas e a instalação de câmeras. “O objetivo dos bancos é não ter custo com segurança”, pontua. Banco do Brasil e Bradesco são os mais atacados.

A professora do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jania Perla Aquino, afirma que o assalto a banco é negócio arriscado, mas lucrativo. “Não é a impunidade que estimula o crime. Mesmo sendo presos, vários voltam a se envolver seja com assalto ou estelionato, porque eles acabam ganhando. Muitos investem o dinheiro em imóveis, colocam em nomes de terceiros. É difícil a polícia tomar de volta para o Estado”.

No Interior, a fuga seria mais fácil, conforme o coronel Hervano Macedo, comandante do Comando de Policiamento do Interior (CPI). A distância de um município para outro, atrasando a chegada de reforços, além de estradas vicinais não asfaltadas e municípios de fronteira entre estados, seriam fatores para a preferência dos assaltantes pelo Interior.

O coronel afirma ainda que o aumento do efetivo policial não é o problema da insegurança, principalmente a bancária, no Ceará. Policiais motivados valeriam mais, de acordo com ele. “O efetivo não é ideal, mas com muito boa vontade dá para ir superando a problemática”, diz ele. Mil policiais estariam sendo contratados para incrementar as seis equipes, cada uma com duas viaturas e oito homens, que já circulam no Estado, reforçando a segurança nas cidades. A Federação Brasileira de Bancos foi procurada, mas não se pronunciou até o fechamento da matéria.

  

Onde

ENTENDA A NOTÍCIA
Nos últimos anos, houve expansão do número de ações criminosas contra bancos no Interior do Ceará, sem que tenha havido necessariamente redução desse tipo de crime na Capital. Não houve, assim, migração, mas expansão. 

Razões
A fuga mais fácil, no Interior, por causa das estradas vicinais não asfaltadas, seria um dos motivos apontados para preferência de bandidos por agências bancárias em cidades de pequeno e médio porte do Ceará.

Segurança deficiente das próprias agências, algumas sem portas eletrônicas ou sistema de segurança interno, também são outros fatores.

Uma solução para evitar novas investidas dos bandidos pode ser investimento em Polícia treinada para esse tipo de situação, maior efetivo policial, comunicação entre polícias e população. Portas blindadas poderiam inibir também novas ações.

Alan Santiago ceara@opovo.com.br

Fonte: O POVO